Diario de Pernambuco
Busca
Por quem nossos votos tilintam

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 14/11/2020 03:00 Atualizado em: 13/11/2020 20:15

As eleições deste domingo decidem os futuros responsáveis pela gestão da cidade e pelas suas prioridades. Competência deveria ser o critério principal nas preferências quando se define o gestor, mas a escolha vem associada à alta discricionaridade nas prioridades. Os vereadores eleitos poderiam ser o principal instrumento das prioridades dos eleitores, mas nosso sistema de decisão é muito concentrado no poder Executivo. Por isso, eles passam a ter papel secundário na definição das prioridades sociais. As prioridades dos prefeitos, contudo, não são claramente expostas. Quando candidatos tentam persuadir a população através de apresentação de propostas, geralmente recorrem a pesquisas que revelam as preferências da população. Por isso, as propostas tendem a ter naturezas semelhantes nas prioridades reveladas, apesar de concretamente diferirem. Ainda assim, seria possível extrair alguns sinais de prioridades dessas propostas. Mas até mesmo para pesquisadores acadêmicos qualificados e experientes, essa inferência torna-se difícil. É complicado identificar as diferenças de prioridades de candidatos distintos quando os partidos são ideologicamente próximos. Ou seja, para quem quer votar bem, as escolhas neste domingo não são fáceis.

Além desses complicadores da própria situação política, temos ainda que encontrar a nós próprios dentro de uma cultura recheada de contradições. Vivemos num país em que a cultura cristã nos impele a nos preocupar com os outros nas nossas preferências sociais, como revelou a World Value Survey, 2017-2020, (Questão 108). Tal conceito é forte no Brasil, quando comparado aos países desenvolvidos incluídos na amostra. Ou seja, acreditamos que a sociedade deve ser solidária com os indivíduos, principalmente aqueles economicamente mais frágeis. Isso nos impele ao voto mais à esquerda. Ao mesmo tempo, segundo a mesma pesquisa, somos uma sociedade em que os indivíduos são bem desconfiados, o que tende a gerar postura individualista, não cooperativa e voltada para cuidar dos nossos próprios interesses (Questões 57 e 61). Ou seja, adicione-se à dificuldade de descobrir quem representa o que nas eleições, as nossas próprias contradições de funcionamento psíquico-cultural. É difícil saber quais são até mesmo as nossas próprias prioridades, pois às vezes a razão é de fato liderada por outros incentivos emocionais não claramente racionalizados.

Por fim, valeria adicionar que nossas escolhas deveriam ser num sistema de otimização dinâmica, pois os resultados de domingo deverão impactar os das próximas eleições e os das demais subsequentes. É possível, impetuosamente, escolhermos estratégia em que damos um passo à frente, mas construindo a necessidade de ter que dar dois passos atrás num futuro próximo, utilizando-se aqui a expressão de Lenin. Diante de tantas dificuldades, é difícil escolher de forma correta. Mas espero que ao menos consigamos evitar o voto em novos malucos, irresponsáveis e desumanos como ocorreu recentemente no Brasil. Como diz o ditado popular: errar é humano, mas repetir o erro é burrice.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL