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E agora o que é que eu faço?

José Otávio de Meira Lins
Hoteleiro em constante (re)construção.

Publicado em: 17/11/2020 03:00 Atualizado em: 16/11/2020 20:38

Curso de bacharelado na Faculdade de Direito do Recife e duas pós em direito empresarial na PUC e no Mackenzie de SP que indicavam o caminho da advocacia, não durou cinco anos. Mesmo exercendo o direito no grupo empresarial de meu pai e de meu tio fui logo sugado pelo turbilhão emocionante da atividade empresarial. O interesse pelo turismo caiu de bandeja no colo – não havia dúvida que esse era o negócio do Nordeste brasileiro – fartas linhas de crédito e incentivos – mergulhei de cabeça. Foram hotéis em Olinda, Boa Viagem, Via Costeira (RN), projetos para Maria Farinha e Polo Cabo Branco (PB). O turismo me abduziu ao ponto de, em menos de um ano, já ocupar a presidência da ABIH-PE em dois anos, tirar dos cariocas o monopólio da direção do órgão maior (ABIH Nacional) e de ser o segundo brasileiro a ocupar a presidência da Associação Interamericana de Hotéis IAHA participar da fundação do Recife Convention Bureau e exercer dois mandatos bastante ativos na sua presidência. Verdadeira catarse, absorvido em pensar vinte e quatro horas no turismo. Na atividade de liderança da classe nacional nos focamos em criar polos turísticos de resorts no Nordeste, trazendo os bem-sucedidos exemplos do México e outros locais do mundo; liberar a cabotagem de navios estrangeiros na costa brasileira; dar ao brasileiro o direito a ter um cartão de crédito internacional; derrubar centenas de amarras burocráticas que engessavam a atividade turística no país. No foco estadual a preocupação em solidificar o turismo cultural, de negócios e principalmente o de eventos; a criação de bairros turísticos, tudo para dar sustentação a uma hotelaria já existente na Região Metropolitana do Recife. Levar Jarbas Vasconcelos – recém-eleito prefeito – e Cadoca para uma viagem histórica pelo Quarteirão Francês de New Orleans e bairros turísticos de Miami, que resultou em sinergia para consolidação do que é hoje o Recife Antigo e Polo Pina. Hora de voltar para primeira pessoa. Preocupado desde o início com uma diversificação que não existia na nossa hotelaria, comprei terreno vizinho ao hotel em Boa Viagem e construí sete salões de reuniões. Foram doze anos trabalhando pesado, sem competição, com ocupação alta e cozinha vinte quatro horas no ar. Aí descobriram. Perdendo concorrências para parceiros que já ofereciam salões e coffee break gratuitos – era chegada a hora de mudar de rumo novamente. O que fazer com os espaçosos salões? O momento era excelente para a bola da vez na hospedagem, fazer neles o “Cult Hostel Design” com sessenta e seis camas, área de convivência espetacular com cozinha completa, lounge equipadíssimo com tv gigante e home theater, IPads com hiperconexão; tudo isso imerso em um universo de quadros e esculturas de um acervo angariado em décadas. Sucesso absoluto. Estrangeiros de todo o mundo passaram por lá. Copa do Mundo. Excesso de novos hotéis e novos apartamentos. Crise econômica braba, a pior de todas elas. Ocupações abaixo de 15%, diárias reduzidas em 60% do valor viável para operar, ampliavam o buraco para onde caminhava o setor. Saída forçada de uma atividade que se tornara tóxica. Parada técnica por um ano. Novamente era chegada a hora de repensar. Dois caminhos a trilhar, hora de decidir: “Sênior Life” ou “Student Housing”. A opção foi a possível, ai surge a “Cult Student Housing”. Surpresa, em apenas dois meses de operação, ocupação plena. Fomos acolhidos em um novo universo, pois uma nova era havia chegado, a era do compartilhamento, a era do empreendimento “co”: coworking / coliving / cohousing / cofunding / cofinancing. Impressionante a quantidade dos universitários catapultados de seus estados para outros pelo Enem; dos profissionais de TI, beduínos montados em seus notebooks; dos “new professional”, trabalhadores andarilhos com suas mochilas de costas; um novo universo de pessoas sós que não querem estar sós. Nada de falhar na oferta da conexão e no fornecimento do sinal do wi-fi. Oferecer espaços para “home office”. Dar suporte com todo tipo de facilidades, loja de conveniência, restaurante (lógico japonês), “tattoo house”, lavandaria americana automatizada, cozinha compartilhada, manutenção vinte e quatro horas. Enquanto os hotéis penavam na pandemia, ultrapassamos a tempestade sem fazer água e sem afundar. Agora a pergunta que sempre me persegue, quando vou dizer novamente: “E agora o que é que eu faço?”. Olha que não falta disposição para mudar, isso está provado.

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