Diario de Pernambuco
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O desafio das conjunções

Vladimir Souza Carvalho
Magistrado

Publicado em: 24/10/2020 03:00 Atualizado em: 24/10/2020 07:59

Não me lembro de ter tido, no primário ou no ginásio, qualquer contato com as conjunções. Nada, a respeito, me foi ensinado. Ninguém teve o trabalho de pegar a conjunção, dissecá-la nas suas duas formas, uma por uma, com os exemplos que facilitam a aprendizagem. Do primário, certeza absoluta. Do ginásio, apenas a leitura de reduzidos textos de autores tradicionais, e, também, dos textos atinentes às figuras gramaticais, e, nestes a conjunção deve ter sido abordada. Uma só explicação fora do roteiro do livro não era expelida. Por outro lado, verdade se proclame, para a justiça ser feita, nada era exigido. O teor dos testes, no ginásio, por exemplo, não guardei. De real é que, nos meus tempos, ninguém foi reprovado em Português. Ora, logo em Português, a notícia de um professor, do Colégio Estadual de Sergipe, considerado uma verdadeira guilhotina, a assombrar o percurso nosso, e, lá, no ginásio, as notas tranquilas.

O quadro era assustador. Quando cursei o clássico, já no Aracaju, o temido professor não estava mais por lá. Fora ensinar em outras plagas. Não retornou, pelo menos, nos três em que lá passei. Outros professores, na matéria, me esperavam. Nenhum tendo tempo e talento para me entusiasmar. Muitos nomes, substituições frequentes, a cadeira não chegando a ser esquentada por nenhum bumbum de especialista na matéria. De um complô contra um deles, me lembro bem, participei. Não estava no nível do curso. Lá se foi, como as pombas.

Depois, quando a minha primeira dupla de filhos invadia os segredos e armadilhas da última flor do Lácio, exatamente tendo a conjunção como alvo, perguntei a Helder como as conjunções subordinadas foram focadas. Queria ter uma noção para poder ajudá-lo com explicações e exercícios. A resposta me decepcionou: o professor mandou que a gente estudasse em casa. Ou seja, igualzinho ao meu tempo. O problema é que, eu, interiorano, estudei em escola na qual a professora só detinha o curso primário, na década de cinquenta, e ginasial no começo de sessenta. Agora, era escola da capital, professor com diploma superior, outra formação. De comum só um traço: nem os velhos, nem os novos, sabiam nada, não se arriscando a entrar no mato para caçar conjunções. Em suma, tudo como antes no quartel de Abrantes.

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