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A volta da inflação

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 17/10/2020 03:00 Atualizado em: 17/10/2020 05:46

A inflação no Brasil continua muito baixa. Dados do IPCA para setembro indicam que ela atingiu apenas 3,14% nos últimos doze meses. Os três últimos meses trazem os patamares mais baixos da inflação de 12 meses desde o ano 2000. Mas há algumas informações preocupantes, além da que a inflação dos mais pobres está bem mais alta, o que tem corroído o poder de compra exatamente daqueles que já possuem situação mais vulnerável. A primeira delas é que os preços no atacado já têm subido muito mais do que no varejo e desde bem antes. Nos últimos doze meses, a inflação do IPA-M foi de 25% e já havia começado a subir desde setembro de 2019. Normalmente, sua elevação acima do IPCA força a subida da inflação no futuro porque os varejistas terminam por repassar aos consumidores esses seus aumentos de custo. A segunda é que o dólar, após subida grande desde janeiro de 2020, saindo de R$ 4,15 para R$ 5,69, tem se mantido apreciado. A terceira é que a dívida pública mobiliária do Tesouro Nacional está subindo mais do que se previa há alguns poucos meses, mesmo já na pandemia. As estimativas são de que ela deverá superar os 100% do PIB até o final do ano. A quarta informação é que a taxa de juros de títulos públicos com vencimentos muito adiante no tempo, alguns anos, está muito mais elevada do que aquelas para títulos de vencimento próximo (a chamada curva de juros está muito inclinada). Isso significa que o mercado está prevendo uma retomada da inflação e necessidade de elevação da taxa Selic no futuro próximo. A quinta informação relevante é que não há segurança de que o governo vá controlar os gastos públicos e manter o teto dos gastos, pois a disposição de vários ministros para rompê-lo é cada vez mais explícita. Como sexta informação relevante cabe destacar que as emendas constitucionais fundamentais para a manutenção do teto dos gastos já foram adiadas para o próximo ano, sendo as da reforma administrativa e do pacto federativo as principais.

Não é incomum os economistas deixarem de prever acontecimentos futuros importantes, como a crise do subprime em 2007 e mesmo a atual crise, essa decorrente de uma pandemia e por tal difícil de prever.  No entanto, quando eles começam a falar de problemas futuros, como já faziam em 2014, momento que a economia brasileira ainda crescia bem. Todos os economistas com algum juízo estão no momento alertando para a possibilidade de volta da inflação, caso o governo não reaja de forma adequada. A probabilidade de retomada da inflação, caso não sejam feitos os ajustes fiscais defendidos, é elevada, mesmo que ela esteja aparentemente sob controle. Não será fácil tomar-se as medidas necessárias. Temos um presidente fraco e com pouca percepção da gravidade do problema. A sua inclinação populista, à frente de uma plateia de fanáticos, tem paralisado o governo federal e deixado a economia brasileira se aproximar do abismo. Ao mesmo tempo, um Congresso hoje dominado por deputados e senadores de baixa envergadura intelectual não tem tido a responsabilidade necessária. Infelizmente, esse é o quadro inflacionário que temos.

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