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"Essa eleição é sobre a economia da Covid, estúpido"

Maurício Rands
Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

Publicado em: 07/09/2020 03:00 Atualizado em: 07/09/2020 06:51

O Dia do Trabalho nos EUA é a primeira segunda-feira de setembro. Apenas dois candidatos que nesta data estavam atrás nas pesquisas conseguiram virar o jogo. George Bush em 2000 e Donald Trump em 2016. Hoje as pesquisas favorecem Joe Biden. O site FiveThirtyEight aponta uma vantagem democrata com 71% de chances de vitória contra 29% do republicano. A revista Economist, com um modelo que combina dados econômicos, demográficos e expectativas de comparecimento com os das pesquisas de opinião, aponta chances de vitória no colégio eleitoral de 83% para Joe Biden e de 17% para Trump. Em 05/9, a projeção para o colégio eleitoral era de 334 a 204.

Isso pode mudar porque as curvas de ambos estão se alterando. Em declínio a dos democratas. Em ascensão a do republicano. E porque alguns estados decisivos, como Wisconsin, Michigan, Pensilvânia e Flórida, hoje estão liderados por Biden, mas com margens menores do que a nacional. A recuperação econômica já em curso também pode ajudar os republicanos.

Trump aposta no discurso “lei e ordem”. Como fez Nixon em 1968. E na suposição de que se estaria formando uma maioria silenciosa crítica aos protestos violentos. Biden, nos últimos dias, tem procurado combinar o apoio ao “black lives matter” com um apelo para que os protestos contra a polícia racista não sejam violentos. Seus críticos lembram que melhor seria focar na má condução da coronacrise pelo presidente-candidato. E nas consequências econômicas dessa má gestão que já conta 188.514 mortos e uma taxa de desemprego que foi de 4,4% em 04/4 a 14,7% em maio, embora já tenha baixado a 8,4% em 4/9. Por isso, alguns analistas parafraseiam a frase de James Carville: “Essa eleição é sobre a economia da Covid, estúpido”.

Se os resultados forem apertados, pode-se repetir uma situação de contestação como a de Bush vs. Al Gore em 2000. O voto pelo correio deve aumentar. Tradicionalmente ele é mais usado por eleitores democratas. Uma recente pesquisa da YouGov apontou que 50% dos eleitores de Biden planejam votar pelo correio. Contra apenas 20% dos eleitores de Trump. Pode-se chegar à noite das eleições com Trump na frente. Mas esse resultado pode mudar com a contagem dos votos pelo correio, sempre mais lenta. O modelo da Economist estima que somente quando contados 90% dos votos pelo correio a vantagem de Biden estaria consolidada. Imagine-se a confusão que o presidente faria.

A incerteza sobre as eleições americanas vai se arrastar nesses dois meses que faltam para o pleito. Os que já estão fartos da onda populista conservadora sabem que a derrota de Trump enfraqueceria líderes direitistas como Victor Orban, Jaros%u0142aw Kaczy%u0144ski, Putin, Erdogan e Bolsonaro. Claro que a conjuntura mudaria e esses líderes perderiam com a saída de cena de um dos seus. Sobretudo porque no país mais poderoso do planeta. O problema é que esses autocratas, na verdade, são muito mais sintomas de sociedades adoecidas do que a causa dos problemas de erosão da democracia. Por isso, a eventual derrota de Trump ajudaria a superar o estágio de polarização que mina as bases da democracia. Mas os que prezam o pluralismo, a democracia e os direitos humanos ainda terão muito trabalho para superar as ameaças que hoje pairam sobre as sociedades polarizadas.

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