Diario de Pernambuco
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Se fosse fácil, não era com a gente

Ricardo Dantas
Secretário de Finanças do Recife

Publicado em: 12/08/2020 03:00 Atualizado em: 12/08/2020 05:45

Na semana do seu aniversário, é impossível para aqueles que trabalharam com Eduardo Campos não recordarem um pouco da convivência com o político agregador, leal aos seus princípios, de um espírito democrático elevado e que sabia como ninguém construir consensos, mas não abria mão de se posicionar. Lembrava sempre que “precisamos ter lado” e que “quem não se posiciona não se credencia”, fazendo questão de dizer que tinha lado e o seu lado era o lado do povo. Embora esse seja o traço mais conhecido dele, eu, que não sou político, gosto de lembrá-lo como o melhor gestor público que o estado de Pernambuco já teve.

Conhecemo-nos em 1996, quando o terceiro governo de Miguel Arraes enfrentava uma greve na Secretaria da Fazenda (Sefaz) que já se arrastava há meses sem solução, e coube a ele construir habilmente a saída do impasse como novo secretário da pasta, ao transformar a gratificação de produtividade em instrumento de gestão e aumento da arrecadação. Passei a fazer parte de sua gestão e, já naquela época, ele impressionava por reunir em uma mesma pessoa o idealismo das causas socialistas, mas dotado de um pragmatismo raro no setor público, cobrando velocidade nas ações e resultados objetivos. Gostava de dizer que “o povo tem pressa” e cabe a nós, que fazemos o serviço público, dar conta desse recado. Nasceu ali uma relação de respeito e admiração.

Em 2006, quando eu fazia o curso de formação para auditor da Receita Federal em Brasília, fui procurado para colaborar com informações para o seu projeto de disputar o governo de Pernambuco naquele ano. Vencida a eleição, fui convidado para integrar a equipe do novo governo. Anunciada a equipe em novembro, uma sexta, já ocorreu naquele mesmo final de semana a primeira reunião com todo o secretariado com a abertura sendo feita por nada mais nada menos que Vicente Falcone, referência nacional em gestão. Estava ali plantada a semente de uma gestão marcada pela busca incansável pelo resultado, pelo sentido de urgência, com metas claras para todos e um “Mapa da Estratégia” que norteava todas as ações da gestão.

Planejar, realizar, checar e corrigir os rumos em um ciclo infindável de retroalimentação era a rotina de um governador que ousou fazer diferente a gestão pública. Sabia como poucos manter a equipe motivada e, mais do que isso, era capaz de promover nas pessoas um sentido de pertencimento e colaboravam com algo maior, que estava sendo construído para o bem de todos. Isso tinha um poder integrador impressionante. Tínhamos - e temos - orgulho de ter feito parte dessa equipe, sendo esse aspecto expandido ao próprio povo pernambucano que teve sua autoestima devolvida e seus símbolos restaurados.

Sob a sua liderança, Pernambuco cresceu a taxas chinesas, mudou sua matriz econômica, levou indústrias ao interior e obteve muitos outros resultados, mas destaco o enfrentamento ao problema da violência. Os resultados alcançados no “Pacto pela Vida” obtiveram reconhecimento mundial com premiação pela Organização das Nações Unidas (ONU). Infelizmente não houve tempo para que testemunhasse semelhante premiação que o estado também recebeu pelo “Pacto pela Educação”. Estávamos no final de 2012, faltava menos de um ano e meio para a sua desincompatibilização do cargo visando a disputa presidencial, e havíamos avançado apenas uma posição no ranking nacional do ensino médio, passando para o 16º lugar. Chegou o ano de 2013 e novo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) seria medido. O objetivo então foi traçado.  Seu resultado se apresentaria como saldo de sua gestão na campanha eleitoral, cuja meta, desde o início, era terminar o mandato entre os 5 melhores do país. Diante de desafios dessa magnitude ele costumava dizer: “Se fosse fácil,não era com a gente”.

Embora tivéssemos a mesma idade, Eduardo Campos sabia como ninguém desafiar e motivar seus colaboradores fazendo com que quiséssemos trazer sempre os melhores resultados nunca para o “Chefe”, mas para o “POVO”. É nessa época do ano que volto a sentir aquele aperto na alma que só senti igual com a perda de meu pai. Infelizmente naquele ano de 2013, o governo federal, que sempre divulgava o Ideb entre abril e maio, só veio a divulgá-lo em setembro. Mais um resultado que ele não pôde orgulhosamente testemunhar: o quarto lugar de Pernambuco. Até hoje guardo a vontade de gritar: “Nós conseguimos, Chefe! Se fosse fácil, não era com a gente!”.

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