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O novo Iluminismo

Pedro Leonardo Lacerda
Advogado pós-graduado em direito público e consultor político

Publicado em: 13/08/2020 03:00 Atualizado em: 13/08/2020 06:27

“A história se repete”! Quem nunca escutou este axioma, fruto da sabedoria popular? E na política, espelho da sociedade, não seria diferente. A imprensa nacional repercute, com muita ênfase, a criação do “Bloco Iluminista”, no Congresso Nacional.

Mas afinal, o que seria o Iluminismo aplicado na nossa política contemporânea? Para responder a esta indagação, necessário voltarmos um pouco na “máquina do tempo” da história, cuja periodização consiste no método cronológico empreendido para contar e delimitar o tempo histórico da humanidade.

Assim, para efeito didático de contagem dos anos, utiliza-se o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo como marco delimitador da passagem dos séculos. É o “Anno Domini” (A.D) o “ponto de partida” da Era Cristã, ou Era Comum. Surge desta forma, a periodização clássica da história, subdividida em: Pré-história; Idade Antiga; Idade Média; Idade Moderna e Idade Contemporânea.

Promovendo um “corte no tempo”, chegamos à Idade Média, período compreendido entre os anos de 476 d.c (depois de Cristo) até 1453, no qual se deu a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, provocando a ruína do Império Romano do Oriente.

A Idade Média, ou “Idade das Trevas”, foi um lapso temporal da história humana constituído pelo obscurantismo, degeneração moral e disputas políticas sangrentas no continente Europeu.

Caracterizou-se pelo feudalismo, práticas de suserania e vassalagem e por retrocessos intelectuais, filosóficos, institucionais e artísticos, comparando-se essas searas com o fértil e dinâmico período da Antiguidade Clássica.

No período medieval, no qual o continente Europeu empobreceu, desorganizou-se e regrediu em termos do conhecimento científico (desenvolvido pelos gregos) ganha fôlego nos escritos cosmológicos a ideia de que o planeta Terra é esférico, e não plano, como se pensava em algumas culturas antigas.

Após o término da Idade Média, surge a Idade Moderna, compreendida entre os anos de 1453 a 1789, quando se dá a “Revolução Francesa” - baseada no progressista pensamento Iluminista.

O Iluminismo ou “Séculos das Luzes” representou um movimento intelectual, cultural e filosófico, surgido na Europa, centrado na razão como a determinante fonte de autoridade e legitimidade. Defendia ideais como: liberdade, igualdade, fraternidade, progresso, tolerância, governo constitucional e separação Igreja-Estado. Fato ocorrido há mais de 300 (trezentos) anos!

Agora que definimos em nossa “máquina temporal” os conceitos de Idade Média, Moderna e Iluminismo voltemos para nosso Brasil de 2020. É no tempo presente que testemunhamos na ribalta nacional o duelo repetido entre “neomedievalistas” e os “neoiluministas”.

Com o abrir das urnas em 28 de outubro de 2018, a sociedade brasileira passou a visualizar debates sobre a geometria do globo terrestre, se é plano ou esférico, e em torno da laicidade do Estado, que para alguns deve reger-se em simbiose com valores cristãos neopentecostais e evangélicos.

No Congresso Nacional, no início e durante esta legislatura, as pautas e debates orbitam rotineiramente no enfrentamento de teses morais, comportamentais e religiosas - deixando-se de lado o aprofundamento nos temas políticos e sociais, necessários para o combate na pobreza e desigualdade em nosso Brasil.

E neste surpreendente “flashback” histórico/cultural, encontramos a reorganização das forças políticas na Câmara e Senado Federal. Com fins de promoção da defesa das instituições brasileiras, surge no Congresso Nacional o “Bloco Iluminista”, revivendo através de mais de 80 (oitenta) parlamentares que o compõe – oriundos das legendas PSL, PTB e PROS - os valores atemporais da liberdade, igualdade, fraternidade, laicidade do Estado e governo constitucional.

Resta-nos acompanhar esta reedição histórica do enfrentamento de “medievalistas e iluministas”, agora no campo político/ideológico, na ribalta do Congresso Nacional.

Viveremos a oportunidade única de sermos protagonistas de uma “história que se repete”, torcendo que neste embate prevaleça o melhor para nosso povo, cansado de nunca ter tido a oportunidade verdadeira de romper os grilhões do feudalismo e servilismo que nos domina desde 1500.

Para grande parte do povo brasileiro, a Idade Média nunca terminou. Que seja agora.

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