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Vacinas para Covid-19 e a esperança de um nordestino realista

Eduardo Jorge da Fonseca
Médico pediatra do IMIP; vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco e conselheiro do Cremepe

Publicado em: 22/07/2020 03:00 Atualizado em: 22/07/2020 05:45

O mundo assiste atônito à mais grave crise em saúde nos últimos cem anos causada pelo SARS-CoV-2. A falta de um tratamento específico fez com que as vacinas fossem a esperança mais promissora. A  garantia da possível imunidade nos permitirá menor preocupação  com o distanciamento social e todas as suas implicações.

A sequência genética do vírus desencadeou intensa atividade de pesquisa. O impacto humanitário e econômico da pandemia de Covid-19 impulsionou a utilização plataformas para acelerar as vacinas com uma rapidez sem precedentes.

Reduzir todo o processo de produção vacinal a um período especulado de 12 a 18 meses é realmente inédito. Mas será que  tudo isso é possível sem que haja o prejuízo da segurança? Atualmente, existem 135 candidatas a vacinas confirmadas como projetos ativos.

Algumas plataformas nunca foram utilizadas nas vacinas licenciadas. Como todo processo novo, há de se ter cautela, para não oferecer falsas esperanças em um momento tão difícil para a humanidade.

As três vacinas teoricamente mais adiantadas são a do laboratório americano Moderna, que  iniciou o teste clínico de sua vacina baseada em RNAm-1273, apenas dois meses após a identificação da sequência do vírus e já publicou resultados de fase 1 de pesquisa e as vacinas baseadas em vetores virais, como a pesquisada na Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com o laboratório AstraZeneca, que promete a possibilidade um alto nível de expressão de proteínas e indução de fortes respostas imunes. A vacina inativada do laboratório chinês Sinovac também começará seus estudos de fase 3. Estas duas últimas incluíram o Brasil nos seus testes e iniciarão nos próximos dias. Importante que a desejada rapidez destas respostas não venham em detrimento da pesquisa científica de qualidade.

A Assembleia Mundial da Saúde fez recomendação a um pool voluntário de patentes pressionando as empresas a desistirem de seus monopólios.

Pesquisadores experientes preocupam-se com o fato de que, em meio ao desejo de pôr um fim à pandemia da Covid-19, os produtores  tenham se entusiasmado demais. Recentemente, a Universidade de Oxford recuou  em seu “otimismo” relacionado à possível disponibilidade  da vacina  antes do fim do ano. Além disso, 72% destas pesquisas  estão sendo desenvolvidas por empresas privadas, com pouca participação da América Latina e África.

É fundamental uma forte cooperação internacional para garantir que as vacinas possam ser fabricadas e fornecidas equitativamente ao mundo todo, particularmente aos países pobres. Serão necessarias cerca de 15 bilhões de doses e isso é o maior desafio.

Como bom nordestino,  cito Ariano Suassuna: “Eu não sou nem otimista, nem pessimista. Sou um homem da esperança. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.”

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