Diario de Pernambuco
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Meu irmão Mauro Arruda

Marly Motta
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 31/07/2020 03:00 Atualizado em: 31/07/2020 06:03

O escritor Josué Montello com Ivone, sua mulher, nossos amigos, desde a eleição de Mauro Mota à Academia Brasileira de Letras, em sessão de “saudade”, lembra o grande escritor Alceu Amoroso Lima num dos seus mais belos livros Adeus à disponibilidade e outros adeuses, onde chama a atenção dos seus leitores para o fato de que a vida é uma sucessão de adeuses.  

Aqui, deixo o meu sofrido adeus ao meu irmão Mauro Arruda, adeus a nós mesmos, a casa da infância onde havia respeito e afetos entre pais e irmãos. Tu foste Mauro Arruda menino rural, astuto, inteligente pelos caminhos entre marmeleiros, aroeiras, umburanas, laçando potros de montaria, tomando banho de rio de águas limpas, sem esquistossomose, transmitido pelos hospedeiros caramujos de água doce. Lembro-me da Fazenda Alegre, dos chocalhos dos bois pastando depois de um período de seca, dos verdes brotando no extenso milharal à espera da festa de São João, santo patrono do Nordeste brasileiro. Paisagem do teu mundo e do teu irmão mais velho, o nosso inesquecível Milson Arruda, que Deus o levou há sete anos, nascido em Surubim, berço dos Barbosa e dos Farias. O caçula Manuel Morville não participava das traquinadas. Ambos, ele e Mauro, nasceram em Bom Jardim.

Para facilitar os estudos dos filhos na universidade, nosso pai comprou uma casa no Recife, recém-construída na Rua Lopes Carvalho, 327, no bairro da Madalena, ainda de pé. O quintal não foi aprovado por Sinhá Ana, nossa velha empregada, por ser pequeno e não poder criar soltas suas galinhas.

Guardo na memória a emoção da nossa mãe, com seus lindos olhos azuis, vestida a rigor na tua colação de grau e entrega do diploma de médico, da turma de 1954, no Teatro de Santa Isabel. O baile de formatura realizado no Cube Internacional do Recife, com Maria Consuelo, tua noiva, a nossa querida Ciêlo, deslumbrante. Logo depois, casados e bem casados, com celebração realizada na Igreja Madre Deus, pelo nosso tio padre Manuel Gonçalves. Construíram uma bela família: Três filhos médicos, pela ordem de chegada: Flávia, Claudia e Mauro Arruda Filho, a nora Ana Paola, médica anestesista; os genros Djalma Godoy, médico cardiologista e Carlos Buarque Gusmão, engenheiro; seis netos e oito bisnetos. Todos lindos!

Na vida profissional, tiveste oportunidade de conhecer e conviver com grandes mestres da medicina. Em São Paulo, Jesus Zerbini e Ângelo Rizzo. No Recife, Joaquim de Souza Cavalcanti, nosso parente, e Luiz Tavares da Silva. Em Paris, com Charles Dubost e Jonh Kijklin, em Cleveland-EUA, e em inúmeros outros centros hospitalares e científicos espalhados por esse mundo.

Meu irmão Mauro Arruda foste grande na cardiologia, em teus compromissos diante das milhares de cirurgias, deste vida e oportunidade aos teus pacientes. Na firmeza das tuas mãos, nessa missão a ti confiada brotou a chama da espiritualidade. Éramos seis e com a tua partida somos dois, eu a mais velha e Morville o caçula à espera do grande encontro.

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