Diario de Pernambuco
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Distanciamento da vida

George Trigueiro
Médico e presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde e Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas do Estado de Pernambuco (SINDHOSPE)

Publicado em: 20/07/2020 03:00 Atualizado em: 18/07/2020 07:17

As mudanças começaram após o carnaval. A dúvida era se continuava com a máscara do papangu de Bezerros ou com a recomendada pela OMS. Alguns palhaços, com todo respeito aos profissionais da arte, continuaram com suas fantasias e fazendo gracinhas. Não tivemos tempo nem noção, que se aproximava a Paixão de Cristo, diante de tantas expectativas e desencontros. São João nem pensar. Daqui a pouco chega o Natal. Somente “lives”.

Aniversário de filhos, netas, amigos e familiares deram espaço para várias reuniões virtuais e entrevistas na mídia. Estou na gestão de uma entidade sindical patronal, que representa os estabelecimentos de saúde de Pernambuco, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde e Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas do Estado de Pernambuco (SINDHOSPE).

Em isolamento social desde o início da pandemia, uma prisão domiciliar sem tornozeleira - acompanho todas as evoluções das crises na saúde, na política e na economia. Mas nada me trouxe mais aflição do que receber, quase que diariamente, notícias de afastamento do nosso convívio por adoecimento ou falecimento de pessoas conhecidas, amigos, colegas de turma, ex-professores e familiares.

A nossa turma de médicos, formados em 1975, estará comemorando os 45 anos de formatura esse ano. Já tínhamos planejado um grande encontro que talvez, também, seja pela internet. Muitos colegas já entraram ou entrarão na confraria dos setentões, portanto “vulneráveis e alguns com comorbidades”.

Atualmente estamos na década dos “Se Tenta”: ser feliz, ter saúde, paz, esperança e harmonia. Devemos, como profissionais de saúde, manter a prudência, até o surgimento de uma vacina devidamente certificada pelas autoridades sanitárias ou alternativas farmacológicas seguras.

Mas o que me levou a refletir sobre a finitude da vida foram as mortes de dois amigos de infância. Um pela COVID-19 (Dinaldo Wanderley, ex-prefeito de Patos-PB) e outro por complicação de doença crônica degenerativa. Ambos mais novos que eu.

Alcy Heim (Al de Alfredo e Cy de Ecy, seus pais) era meu amigo e cunhado. Após mais de 100 dias de confinamento, desloquei-me a João Pessoa para seu velório e cerimônia de cremação. Suas cinzas foram depositadas, juntas ao do seu pai, na Praia do Poço (Cabedelo-PB), onde conheci sua família e minha esposa Ingrid, em 1958.

Apesar das mais de 70 mil mortes pelo coronavírus aqui no Brasil, uma simples mensagem na rede social impactou tanto esse momento a minha vida e, constatei que: enquanto estamos discutindo a saúde analogicamente, já estamos refletindo digitalmente, a imortalidade. Um “simples” vírus veio mudar o novo conceito de vida da humanidade.

Devemos pensar mais em como não morrer, do que viver.

Salve Pacha Mama (Mãe Terra)

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