Diario de Pernambuco
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De mediocridades e do meu anjo de guarda

Vladimir Souza Carvalho
Magistrado

Publicado em: 25/07/2020 03:00 Atualizado em: 25/07/2020 05:20

Estou de saco cheio de poetas que não sabem poetar. Alinham duas ou três frases e se intitulam de poetas, recebendo os salamaleques devidos como se fossem verdadeiros deuses. Em lugar de produzir a poesia verdadeira, na forma e no conteúdo, em verdade, agridem o idioma e rebaixam o conceito de poesia. O vulgo, que nada entende de poesia, cobre o pretensioso poeta de louros, de elogios variados, e o desgraçado se enche de brios, ergue a cabeça, e, para se manter em crime permanente, anuncia uma nova edição de seu último livro. Durma com um barulho desse!

Menção especial para o cronista que batiza um relatório com o nome de crônica, se forrando de encômios dos seus pares, parabéns pela beleza do texto, digno de qualquer antologia nacional, elogios que incham seu ego, e, ele acreditando, acreditando, só falta se referir a Machado, a Humberto de Campos, Raquel de Queiroz e Rubens Braga, como meus caros colegas, pessoas de sua profunda intimidade, que, como ele, também escreveram crônicas. Tão só são textos áridos, limão sem sumo, grunhidos que não se elevam a condição de música, a leitura, por mais concatenada que seja, só lembra o homem que sobe a ladeira, as pernas atravessadas uma na outra, dando a entender ser portador de um defeito físico de nascença, defeito que, aliás, não existe, estando apenas a caminhar assim para segurar as fezes que lhe descem pelas pernas.

Das mediocridades a província está cheia, todas elas com o paletó encharcado de medalhas e de prêmios, a arrotar importância, mudando até o caminhado, como se tivessem pisando nos jardins do Olimpo, em direção ao trono máximo, onde acham que reservaram lugar especial.

Pois bem. Eu dando chutes nessa caterva de lombrigas e o meu anjo de guarda observando, lendo o que os meus dedos digitavam, estranhando que, de repente, abandonasse a linguagem lírica para substituí-la pelo azedume de sentenças ásperas. Coitado de mim, a espera de uma palavra de apoio, meta o pau, pise nesses vermes, rasteira nessa corja, até que o anjo de guarda resolveu falar. E você, com suas crônicas, como se situa, se acha superior aos anões apontados? Os seus textos, como classificá-los? Ajeito a cabeça, voz severa: e quem lhe chamou? Quem lhe pediu opinião?Anjo de guarda não é fiscal literário. Volte para seu lugar.

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