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Bom Jesus, a mais bela entre outras mais...

Leonardo Dantas Silva
Escritor e historiador

Publicado em: 30/07/2020 03:00 Atualizado em: 30/07/2020 06:36

A nossa “Rua do Bom Jesus, colorida e repleta de história” vem figurar entre as 31 mais belas do mundo, segundo seleção da renomada revista de arquitetura internacional, a Architectural Digest, onde aparece em terceiro lugar, sendo a única brasileira em tal seleção.

A revista norte-americana chama atenção para alguns pontos presentes na histórica rua recifense. Um deles é a Sinagoga Kahal Zur Israel, prédio da primeira sinagoga construída nas Américas, que ainda existe para visitação.

Na seleção feita conta com 31 alamedas distribuídas por todo o mundo, a Rua do Bom Jesus ficou atrás apenas de Setenil de Las Bodegas, na Espanha, e da Washington Street, no Brooklyn, em Nova York.

A nossa rua encontra-se situada no Bairro do Recife (erradamente chamado de “Recife Velho”), assinalada por uma inscrição:

Rua do Bom Jesus
antiga Rua dos Judeus
1636 – 1654

Trata-se de uma rua de origem curiosa, com seus primórdios no século 17, tendo sido ocupada no primeiro momento pelos primeiros judeus chegados ao Brasil, e nela construíram a primeira Sinagoga das Américas, de onde saíram os 23 judeus que deram origem à primeira comunidade judaica dos Estados Unidos.

Placas em cerâmica, desenhadas pelo artista Bernardo Dimenstein, nela afixadas em novembro de 1992 por um grupo liderado pelo comerciante Germano Haiut, assinalam o local por sugestão do autor destas linhas.

Assim aparece aos olhos de todos a Rua do Bom Jesus, que, entre 1636 e 1654, abrigou a primeira Sinagoga das Américas, denominada de Kahal Kadosh Zur Israel, ou seja, a Santa Comunidade o Rochedo de Israel.        

Quando da rendição das tropas da Companhia das Índias Ocidentais, em 27 de janeiro de 1654, cerca de 150 famílias judaicas que viviam em Pernambuco tiveram que retornar aos Países Baixos, muito embora algumas tenham voltado a se estabelecer nas ilhas do Caribe e mesmo na América do Norte.

Ao contrário dos demais, um grupo desses judeus, formado por 23 pessoas, dentre adultos e crianças, passageiros do navio Valk, tornou-se prisioneiros de piratas espanhóis que os ameaçavam com os cárceres da Inquisição. Ao aportar na Jamaica, porém, vieram a ser libertados pelos franceses que, com eles, rumaram em direção a Nova Amsterdã a bordo do barco Sainte Catherine.

Chegados a Nova Amsterdã, em setembro de 1654, ali fundaram a primeira comunidade judaica, naquela que veio ser a cidade de Nova York.  Segundo comprovação de pesquisas junto ao arquivo do cemitério da Congregação Shearith Israel daquela cidade, membros da Congregação Zur Israel do Recife aparecem em documentos da segunda metade do século 17.        

Nesta primeira sinagoga em terras das Américas exerceu o rabinato o célebre Isaac Aboab da Fonseca; português de nascimento; natural de Castro Daire, distrito de Viseu, onde nascera em 1605. Tendo emigrado com os seus pais para a França e depois para Amsterdã, em 1612, era filho de David Aboab e Isabel da Fonseca.

Formado nas escolas judaicas da cidade holandesa, denominada de A Jerusalém do Ocidente, já 1626 fora designado rabino da Congregação Beth Israel, função que ocupou até 1638 quando da unificação de três sinagogas ali existentes. Em 1641, aceitando convite da comunidade do Recife, veio presidir os serviços religiosos da sinagoga local, recebendo para isso o estipêndio de 1.600 florins anuais, aqui permanecendo até o ano de 1654 quando voltou para Amsterdã, onde fundou em 1675 a Grande Sinagoga Portuguesa.

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