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As salas vips dos aeroportos e um voo no Concorde

João Alberto
Jornalista

Publicado em: 18/07/2020 03:00 Atualizado em: 18/07/2020 07:12

Outra mudança que a pandemia do coronavírus trará nos voos comerciais será o das salas vips, destinada àquelas pessoas que podem pagar mais, muito mais, por uma passagem na executiva ou na primeira classe. As dos voos internacionais, com muitas mordomias, como um buffet com várias opções, de sanduíches a pratos quentes, diversos tipos de bebida, jornais e revistas do mundo inteiro. Muitos passageiros costumavam chegar mais cedo nos voos exatamente para usufruir do espaço. Como todos eram de classes superiores, ainda tinham o direito do embarque na frente dos demais passageiros.

Tive o privilégio de, como convidado, utilizar várias dessas salas vips pelo mundo. Algumas me marcaram muito: a da TAP, em Lisboa, com um verdadeiro show de delícias portuguesas. Pena que tenha terminado; agora os passageiros ficam num salão usado por passageiros de várias empresas áreas, com mordomia, mas sem o charme anterior. A do Aeroporto de Bajaras, em Madri, enorme e com um serviço cinco estrelas. E o da Emirates, em Dubai, negócio de cinema, com várias estações gastronômicas, servindo desde canapés a refeições completas, com várias gastronomias. E bebidas de primeira linha. Os passageiros da primeira classe e da executiva têm direito a transporte exclusivo para o aeroporto em limousines e um check-in exclusivo. E olhem que em Dubai só se pode beber em locais especiais, como os bares dos hotéis. Claro que todos esses espaços terão que passar por restrições, em função das exigências sanitárias.

O Recife chegou a ter uma bela sala vip, usada no tempo em que tínhamos vários voos por semana para Paris, pela Air France; Londres, pela British Caledonian e Transbrasil; Lisboa, pela Varig e TAP; Miami, pela American Airlines; e Atlanta, pela Delta; e Nova York, pela Transbrasil. E da TAM, para Miami, Paris e Madri. Antes da pandemia ainda existia no Aeroporto dos Guararapes uma sala vip, que em nada lembra a anterior.

Uma experiência inesquecível tive ao ser convidado pela British Airways para fazer um voo no Concorde, avião supersônico que operou entre 1976 e 2003, pela empresa inglesa e pela Air France, cada uma com sete aeronaves. No embarque, fui para a sala especial no Aeroporto de Heathrow, em Londres, superluxuosa. Tinha tudo o que se possa imaginar, incluindo banheiro para tomar banho e refeições num restaurante cinco estrelas. O traslado para a aeronave era em carros Mercedes Benz. O Concorde era pequeno, apertado, com apenas 100 poltronas, duas de cada lado, luxuosas, mas nada comparável, em conforto, por exemplo, das executivas de hoje. Um velocímetro na frente da cabine mostrava a velocidade do avião, que chegava a 2.213 km/h (2,04 vezes a velocidade do som). Quando ultrapassava a marca, fazia um estrondo grande e, para evitar que fosse ouvido em áreas residenciais, sempre acontecia em cima do oceano.

No interior do avião não se sentia a alta velocidade. Passageiros, todos elegantemente vestidos, além de serviço de bordo especial recebiam brindes e até um diploma atestando que tinham voado no Concorde. O detalhe que mais me chamou a atenção foi que o voo BA 001 decolou de Londres às 9h30 e, depois de três horas e meia, chegou a Nova York às 8h30. Claro que em função das cinco horas do fuso horário. As malas chegaram rapidamente e havia um setor especial para os passageiros passarem pelas autoridades norte-americanas. E tinham um transfer exclusivo para o hotel. Tudo não era barato: a passagem Londres-Nova York custava US$ 5 mil (R$ 26 mil).

O Concorde esteve uma vez no Recife, em outubro de 1985, trazendo o presidente francês François Mitterrand. Na verdade, dois Concordes, um deles reserva. O avião causou impacto com o barulho que produziu ao ultrapassar a barreira do som. O Concorde teve apenas um acidente, em julho de 2002, ao decolar de Paris, matando os 100 passageiros, nove tripulantes e mais quatro pessoas em terra. Três anos depois, o avião deixou de voar, por ter uma operação antieconômica. Exemplares dele podem ser visto nos aeroportos de Paris e Londres e nos Museu do Ar e do Espaço em Washington. Um deles, por muitos anos, virou outdoor no Times Square, que foi retirado faz tempo.

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