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A Grande Revolução

José Soares Filho
Desembargador do TRT da 19ª Região e professor da Unicap

Publicado em: 14/07/2020 03:00 Atualizado em: 14/07/2020 06:15

Catorze de julho evoca acontecimento de suma importância na história, qual seja a queda da Bastilha, em 1789, que marcou o início da Revolução Francesa. É a data nacional da França. É de notório saber que essa revolução teve repercussão fundamental nos destinos da humanidade, nos múltiplos aspectos da vida - político, econômico, social, cultural, entre outros -, tanto assim que a data de sua eclosão (14 de julho de 1789) é o marco divisório entre a Era Moderna e a Era Contemporânea.

Significativo, nesse aspecto, é o tom profético com que o famoso poeta Goethe, ao assistir à Batalha de Valmy, pronunciou-se: a partir de hoje, deste lugar, começa uma nova era na história do homem. Ali, confrontaram-se, de um lado, uma frente composta por tropas prussianas, austríacas, hessianas e emigrados, sob o comando de Karl Wilhelm Ferdinand, Duque de Brunswick, que invadiu a França com o intuito de barrar o movimento revolucionário recém-instaurado; e, de outro lado, os exércitos franceses, cujas fileiras eram preenchidas por muitos voluntários com pouca ou nenhuma experiência, mas movidos por um espírito nacional e um fervor revolucionário incomum. Apesar de sua inferioridade bélica, as tropas francesas, aos gritos de “Vive la Nation!” e “Vive la France!”, marcharam contra as invasoras, fazendo-as recuar e, assim, vencendo a batalha.

A Revolução Francesa, inspirada nos ideais do Iluminismo, foi tão abrangente que compreendeu quatro distintas revoluções. Uma, a revolução burguesa: a burguesia era uma categoria social esclarecida, visto como portadora de razoável instrução. Outra, a revolução operária, que congregava a massa de trabalhadores urbanos, sem instrução, a qual viria a tornar-se uma grande força na República Jacobina. Outra, a revolução camponesa, cujos integrantes eram analfabetos, mas nem por isso menos importantes. Outra, a revolução feminina, caracterizada pela participação de mulheres, fato esse que pode ser considerado o despontar do movimento feminista.

Destaquem-se, quanto à revolução feminina: as mulheres presentes às assembleias, que, enquanto faziam seu tricot, pressionavam os membros destas para que agilizassem as medidas de socorro à população sofrida; Charlotte Corday, que assassinou, com golpe de navalha, em sua banheira, o revolucionário Marat, que se notabilizou como redator do jornal L’Amie du Peuple (O Amigo do Povo); Olympe de Gouges, autora de um projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, que não se efetivou (paradoxalmente, ela foi executada na guilhotina); Théroigne de Méricourt, que participou da tomada da Bastilha e se envolveu profundamente na Revolução. Em 5 de outubro de 1789, Méricourt lidera uma marcha (de uma multidão estimada em 200 mil pessoas), de Versalhes a Paris, conduzindo, sob pressão, o Rei Luís 16, a Rainha Maria Antonieta e o delfim. Demoiselle Théroigne ia à frente, de cabelos negros, com chuço e capacete, levando no cinto vermelho uma pistola e um punhal.

A Revolução Francesa inspirou muitos outros movimentos dessa natureza no mundo ocidental, entre os quais o de libertação e unificação da América espanhola, que teve em Simon Bolívar seu maior chefe; em nosso país, a Inconfidência Mineira e a Confederação do Equador. E produziu a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, precursora da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, da ONU.

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