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Um escritor que ama a vida

Raimundo Carrero
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 01/06/2020 03:00 Atualizado em: 01/06/2020 05:06

Pode ser, e apenas pode ser, que o leitor não esteja acostumado com este nome: Marcelo Moutinho. Mas não sabe o que está perdendo. Ele não é um desses autores populares que pululam em cada esquina deste país tão desigual. Trata-se de um escritor carioca ainda jovem – não tão jovem que possa ser confundido com um adolescente - com um grande e entusiasmado amor pela vida.

Por isso, é muito comum que os seus contos estejam quase sempre ligados ao futebol, à vida boêmia, ao samba, ao botequim, sem perder de vista aquelas figuras mais dramáticas, que vivem no coração selvagem da vida, entre o amor e o encantamento. Marcelo abre este seu novo livro – Rua de dentro – Editora Record, Rio de janeiro – com uma pequena novela chamada Purpurina - , entre o belo e o grotescoburlesco, em que se destaca um personagem impulsionado para a vida incomum. Gustavo cede a todos os impulsos interiores, não trai a alma e enfrenta o pai, numa briga sem vencido nem vencedor, mesmo quando parece derrotado.

Tecnicamente, o conto dá voltas na narrativa, com Purpurina vencendo um pouco aqui, perdendo um pouco ali mas avançando, avançando...O que concede grandeza e leveza à novela...Uma das maravilhas deste livro de Marcelo Moutinho é justamente a construção do personagem, que provocou o elogio do grande escritor Antônio Torres, para quem o autor escreveu “uma suíte para o homem comum”.

Destacando, sobretudo, que o grande francês Gustave Flaubert era enaltecido por ser o criador de uma “epopeia dos comuns”. Isto é, fazer com que aquela existência de quarto e sala passe para os holofotes e para o centro da vida. Para o destaque do ser.

Ao lado disso, Marcelo tem uma grande capacidade para escolha das cenas e dos cenários, com destaques para aquelas em que seus personagens precisam se envolver para definir o caráter e o comportamento. Mesmo assim, um escritor espontâneo, sem se vincular a rigores técnicos e vanguardista, jogado no texto e na vida. O que quero destacar é justamente a sutileza técnica, de quem conhece a intimidade do texto mas não impõe ao leitor.

A força dos seus diálogos pode ser confirmada no conto Cheiro.

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