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Pobre Nordeste e o auxílio emergencial

Alexandre Rands e Francisco Saboya
Economistas

Publicado em: 13/06/2020 03:00 Atualizado em: 13/06/2020 06:04

A economia brasileira sofre muito com a crise da Covid-19. Estimativas sugerem que o PIB no país deve cair mais de 6%, podendo atingir cerca de -10%. De uma maneira grosseira, pode se dizer que essa também deve ser a queda da renda média dos brasileiros. Mas no Nordeste, a realidade pode ser bem diferente. É bem conhecido o fato de que a renda per capita efetivamente recebida pela população local é razoavelmente superior ao PIB per capita regional, pois as transferências vindas do resto do Brasil são elevadas. Elas são particularmente responsáveis por redução das desigualdades regionais quando ocorrem via programas sociais, pois o Nordeste possui proporcionalmente mais pobres. A distribuição espacial do auxílio emergencial (R$ 600,00/mês) para alívio das privações causadas pela Covid-19 também está tendo resultados qualitativamente semelhantes. O Nordeste recebe uma proporção maior desse auxílio (35,67% até meados de maio),do que a sua participação no PIB nacional (13% aproximadamente), na renda do trabalho (
15,5%, média dos últimos 5 trimestres, 2019 e 1º 2020) e mesmo na população total do país (27,2% em 2019). Isso significa que a Covid-19 pode até mesmo elevar a renda per capita média no Nordeste em 2020. O auxílio emergencial está sendo distribuído para pouco mais de 19 milhões de nordestinos. Isso representa 33,4% da população da região. Ele deve atingir quase 4% do PIB local em 2019. Ou seja, por si, através de efeito direto na renda, já deve ter um impacto grande, atenuando a queda do PIB per capita. Somando-se aos efeitos indiretos, a pandemia pode ter impacto positivo na renda per capita local.

Em 167 dos 185 municípios de Pernambuco essa ajuda atingirá mais de 15% do PIB nos três meses para os quais haverá liberação de recursos. No Recife, tal política atingirá apenas 5,75% do PIB estimado para o município. Se excluirmos os 10 municípios de maior PIB do estado, a proporção da ajuda em relação ao PIB dos demais atingirá 23%, nos três meses em que o auxílio forliberado. Se considerarmos o resto do ano como sem auxílio, isso significa que nos 175 menores municípios de Pernambuco, o aumento de renda trazido pelo auxílio emergencial deverá representar cerca de 6% do PIB anual, caso houvesse crescimento zero desse ano em relação a 2019. Isso significa que o auxílio compensa a queda do PIB nesses municípios, principalmente se ele for estendido por mais meses, mesmo que em valores menores. Como essa renda adicional gerada pelo auxílio emergencial está concentrada apenas em três meses, pode se concluir que os municípios do interior (exceção a Goiana, Caruaru, Petrolina e Vitória de S. Antão) estão em momento de aquecimento acentuado das atividades econômicas, pois essa renda está sendo principalmente gasta localmente.

Além disso, a penetração da Covid-19 no interior do estado ainda é baixa. Enquanto em 10/06/2020 em Pernambuco havia registro de contágio confirmado de 0,439% da população, na RMR esse percentual era de 0,756% e no interior (PE-RMR) era de 0,210% apenas (dados do Ministério da Saúde). Ou seja, a população do interior sofre menos com a pandemia e se beneficia relativamente mais do auxílio emergencial; uma combinação que é gerada pelo nível de pobreza e particularidades da forma de penetração da Covid-19 em nosso estado. Tal situação justifica a euforia positiva que hoje se encontra em várias cidades do interior do estado, tornando o momento de distanciamento social em período de felicidade social. Soma-se a isso o fato de que as chuvas deste ano têm sido boas e a agropecuária é o setor que menos sofre com a Covid-19. Infelizmente, esse bom momento da economia do interior de Pernambuco tem sido galgado muito sobre um nível de sofrimento elevado para a maior parte do Brasil, principalmente as grandes cidades.

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