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O mau jornalismo

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 02/06/2020 03:00 Atualizado em: 02/06/2020 05:23

Como em tudo na vida, há um bom e um mau jornalismo. O bom jornalismo procura os fatos (a “verdade factual”, como gosta de dizer Mino Carta), não se contenta com versões, boatos, rumores. Investiga e se atém aos fatos, que é o que quer informar aos leitores ou ouvintes. E, em assuntos polêmicos, apresenta lisamente, imparcialmente, os dois lados da questão. Não toma partido. Não entrevista só uma corrente, não apresenta apenas as próprias opiniões, camufladas sob a forma de “entrevistas” com entrevistados, mesmo especialistas, cuidadosamente selecionados, somente aqueles que dizem o que o jornalista está querendo defender.

No caso dessa pandemia atual, correm mil e uma notícias de uma diferença abissal entre o número de infectados e mortos em certos estados brasileiros e em outros. O bom jornalismo não pode ignorar olimpicamente esses fatos. Nem pode deixar de questionar, de querer descobrir o por quê. Por que o Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas têm infectados e mortos em quantidades assustadoras, ao passo que Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, apresentam números espantosamente inferiores?

O bom jornalismo certamente deve dar a evolução do número de casos no Brasil, e pode dizer, como foi dito recentemente, sempre em tom de assombro (para atemorizar toda gente?), que “ontem o Brasil superou o número de mortes da Bélgica”. Mas é honesto, é sério, é bom jornalismo não dizer, ao mesmo tempo, qual a população e o tamanho do Brasil e qual a da Bélgica, para apresentar a proporção exata? Porque, de fato,  o percentual de mortes no Brasil por milhão de habitantes  é muitíssimo inferior ao da Bélgica, da Itália, de numerosíssimos outros países. Que jornalismo pode se pretender decente omitindo dados assim?

É honesto, ao entrevistar uma médica prestigiada (aliás, brasileira do Piauí, mas trabalhando e sendo reconhecida na Espanha) que conseguiu reduzir a simplesmente zero o nível de mortalidade nos hospitais em que atua, suspender a entrevista na hora em que a pergunta seguinte óbvia seria: “O que a senhora fez, que protocolo adotou para reduzir assim o número de mortos?” Essa pergunta elementar não interessa ao entrevistador, nem ao público? Por que descrever os estágios da doença (assustando todo mundo), e não registrar os procedimentos da cura, que teria evitado tantas mortes? Isso é jornalismo digno desse nome? Que tipo de jornalismo não se interessa pelos casos de sucesso?

Essa entrevistada está entre os muitos médicos que estão receitando o discutido remédio da cloroquina (mas somente dependendo das condições do paciente e nos estágios iniciais da doença) e declaram estar conseguindo excelentes resultados. Que qualidade de jornalismo é o que divulga notícias sobre esse remédio, mas somente quando aplicado nos estágios mais avançados da doença (quando ele seria ineficaz ou até contraproducente)? Que jornalismo é esse que não distingue as duas situações e não questiona, não investiga sobre os resultados? É jornalismo que procura a verdade factual e quer salvar vidas, ou o que quer é espalhar o terror e desestabilizar o governo? Seu objetivo é a informação honesta e imparcial ou virou partido político e o que quer é tão somente derrubar o presidente?

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