Diario de Pernambuco
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Carta ao bisavô

Rodrigo Pellegrino de Azevedo
Advogado

Publicado em: 19/06/2020 03:00 Atualizado em: 19/06/2020 06:33

Andei pesquisando em antigos arquivos, ainda digitais, assuntos sobre meus antepassados. Encontrei vários documentos e impressões de meu bisavô, Rodrigo Pellegrino de Azevedo, sobre um evento que aconteceu no planeta Terra, há 100 anos, em 2020.

Fico imaginando como pode o mundo ter sido assim? O que me espanta é que, apesar das informações e conhecimentos inúmeros, existiam pessoas que acreditavam ser a ‘Terra plana’. Outro tema que consegui pesquisar foi sobre a ciência primitiva. As pessoas costumavam afirmar primeiro para provar depois. Mundo estranho.

A ‘pandemia’ do início do século passado inaugurou o novo modelo de organização da humanidade, vigente até hoje. Falava-se em capitalismo, era assim como se organizava o desenvolvimento naquela época. Ainda bem que somente temos ‘aceitos’ e ‘não aceitos’ hoje em dia.

Tudo bem, sei que ainda temos os ‘não aceitos’, pessoas sem ‘Internet Protocol (IP)’, afinal, somos todos algoritmos, mas o fato é que a ‘pandemia’ abriu a janela da humanidade para o futuro. Não tivesse sido o ‘Estado’, como se chamava antigamente a ‘Grande Plataforma Global’ que somos hoje, todos nós estaríamos vivendo como os ‘não aceitos’.

Foi algo muito sutil. A necessidade de ficar em casa permitiu, apenas aos que tinham a manutenção garantida pela ‘Grande Plataforma Global’, poder aceitar as novas condições de vida. Os que eram ‘aceitos’ passaram a ficar cada vez mais em seus ambientes de repouso que, gradativamente, passou a ser ambiente das relações de trabalho, depois de diversão, de autoconhecimento, de encontros, de tudo, entre as ‘Plataformas’ até chegar ao que somos hoje.

Sei que alguns ficaram no meio do caminho. Parece que meu bisavô conseguiu se salvar por fazer isso que faço agora. Escrever. Ele fazia isso quase clandestinamente. Os algoritmos da época não podiam ser controlados pelas pessoas e, todo aquele que não fosse adequado ao modelo ‘aceito’ era automaticamente esquecido. Mesmo assim, como ‘aceito’, foi enquadrado num modelo ‘Internet Protocol (IP)’ como ‘divergente’, o que foi aplicado para poucos, apenas, por curto espaço de tempo, para disfarçar o caminho de homogeneidade geral.

Hoje, o mundo não tem nem mais ‘divergentes’. Existem apenas os ‘aceitos’ e ‘não aceitos’. E todos esses, como eu, vivem nas suas ‘plataformas’, conectadas a outras ‘plataformas’ que dialogam em conformidade com a ‘Big Global Plataform’ (Antigo Estado).

Muito melhor nosso mundo. Somos mais limpos e existimos graças aos programas de “incubação” de vidas que permitem que novos ‘aceitos’ sejam replicados a partir dos dados genéticos. Um mundo mais limpo.

Estranho era o mundo de outrora, algo parecido com os atuais ainda ‘não aceitos’. Pessoas que ainda pisam na terra e sentem o cheiro um do outro. Pessoas que se tocam e estranhamente falam de algo impróprio, amar. Pessoas que moldam o mundo conforme seus sonhos e imaginam o futuro sem qualquer dado à mão.

Como ‘aceitos’, descobrimos a eternidade e isso fez com que uma palavra antiga se transformasse em valor, o tédio. Somos todos agradecidos ao tédio, ele nos transformou no “Homem Plataforma”, os que podem ser ‘aceitos’.”

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