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Nova York antes e depois da pandemia

João Alberto Martins Sobral
Jornalista

Publicado em: 23/05/2020 03:00 Atualizado em: 23/05/2020 09:24

Passei por várias etapas nas muitas viagens que fiz ao exterior. Houve uma fase em que, como jornalista, tinha que pedir autorização ao Ministério das Comunicações, para conseguir comprar U$ 1 mil, único dinheiro que podia levar oficialmente, pelo câmbio oficial. No câmbio paralelo custava três vezes mais e não era fácil comprar. Era usado, não o dinheiro norte-americano em espécie, mas em travelers checks, cheques de viagens, que a gente trocava em outros países (nem sei se ainda existem). Em outros períodos a moeda estrangeira podia ser comprada, mas igualmente em valores limitados e igualmente em travelers checks.

Nestes períodos, quando, é bom lembrar, ninguém falava em cartão de crédito internacional (nem cartão nacional) para controlar as despesas, eu costumava anotar tudo que ia gastando, inclusive reservando o valor do hotel, pois para a reserva antecipada só com vouchers era cobrada uma taxa muito alta.

Lembrei disso ao arrumar minhas coisas e encontrar envelope com meus gastos na mais recente viagem que fiz a Nova York, no segundo semestre do ano passado e que a agência de viagens que organizou tudo tinha me enviado. Tive então esta ideia de comparar esta viagem, com uma possível ida àquela cidade, agora. Para início de comparação, comprei os dólares, em casa de câmbio, por R$ 4. Agora vale R$ 6. E destacar que Nova York é uma das cidades mais caras do mundo.

A passagem foi comprada com muita antecedência e aproveitando uma promoção da classe executiva. Custou US$ 1,2 mil (R$ 4,8 mil na época, R$ 7,2 mil agora). O voo, claro, sem as restrições de agora, como uso de máscaras, ausência de revistas para ler, refeições em caixas com plástico. A única vantagem é que teria mais conforto, com os passageiros em poltronas separadas. Nem sei se poderia viajar, todo dia Donald Trump vive anunciando que poderá proibir os voos vindos do Brasil. Na chegada ao Aeroporto John Kennedy, que conheço de dezenas de idas, o mesmo visual de filas imensas, mesmo com o uso de computadores que antecipam ações antes de chegar à alfândega. As pessoas juntas umas das outras. Agora, com a separação dos dois metros e exames de temperaturas, a demora deve ser muito maior. Cuidados para pegar a bagagem, passando álcool em gel para evitar o coronavírus.

O táxi era fácil, custava US$ 60 (R$ 240 na época R$ 360 agora). Agora cheio de exigências. Fiquei no Hotel Paramount, um hotel boutique pertinho do Times Square, de quatro estrelas, mas com o menor quarto em que me hospedei na vida. Consegui nas Internet a diária por US$ 350 (R$ 1,4 mil, agora R$ 2,1 mil). Foram seis diárias (R$ 8,4 mil, que agora seriam R$ 12,6 mil).

Gastei, em média US$ 100 por dia em refeições e lanches (no total dos seis dias, US$ 600 (R$ 2,4 mil, agora R$ 3,6 mil). Fui assistir a dois musicais, comprados com abatimento na TKTS, por U$ 80, um total de US$ 160 (R$ 640, agora R$ 960). Agora, nem shows teria para ver. Paguei também  US$  60 (R$ 240, R$ 360 agora) para matar a saudade do Brasil e assistir a um show de Daniela Mercury. Para meus deslocamentos, usei o metrô e o Uber, cuja conta vi no cartão de crédito foi de US$ 120, incluindo a volta para o aeroporto (R$ 480 e agora R$ 720). Em resumo, a viagem que custou R$ 17,2 mil, passaria para R$ 25,8mil. Com compras à parte, destacando que não faço parte do time dos compristas, apesar das muitas tentações que Nova York oferece nesta área.

Como é um hábito de muitos anos, tinha programado volta à minha querida Nova York, no final deste ano. Foi apenas um “sonho de verão. Ou melhor, um sonho de inverno, com o frio que, com certeza encontraria. Agora não tenho ideia de quando poderei voltar à minha cidade predileta no mundo.

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