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Editorial Grandes desafios

Publicado em: 20/05/2020 03:00 Atualizado em: 20/05/2020 06:13

Dois burrinhos estão amarrados pelo pescoço com uma corda de pequena extensão. Distantes de ambos, encontram-se cochos de erva fresca e grãos. Cada um faz força para seu lado. Nenhum alcança o alimento. A dupla teve, então, um momento de lucidez. Dirigiu-se para a mesma direção. Um cocho primeiro, o outro depois.

A história se notabilizou graças à mensagem que transmite com clareza indiscutível: a importância de acordo para alcançar resultados. Em momento delicado que o Brasil atravessa, a lição ganha relevância. Talvez na história recente do país nenhuma situação tenha apresentado tantos desafios simultâneos.

De um lado, uma pandemia causada por vírus sobre o qual não há conhecimento, nem vacina, nem remédio eficaz. De outro, o consequente tombo na economia, que rouba empregos, reduz salários e compromete a sobrevivência de milhões de pessoas. No meio, governos se digladiam, poderes se enfrentam, a população se desnorteia. E o Brasil perde.

Mesmo com subnotificações e restrição de testes, o país ultrapassa 270 mil infectados e 17 mil mortos. Segundo o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, vivemos só um terço da crise. Mas hospitais, UTIs e profissionais da saúde estão no limite. Significa que a curva, em ascensão, tem de ser contida para evitar o mal maior. O que se vê, porém, são discursos desencontrados que confundem e retardam medidas inadiáveis.

Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), a economia teve queda de 5,9% em março. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, a ser divulgado pelo IBGE no dia 29, deve confirmar a piora de cenário. Os indicadores de desemprego, que no levantamento de dois meses atrás registraram o índice de 12,2% da força de trabalho, apontam para o pessimismo.

Enquanto tarda o veto ao aumento do salário dos funcionários públicos por 18 meses que figura no projeto de ajuda emergencial de R$ 60 bilhões a estados e municípios, governadores promovem orgias irresponsáveis. Majoram a remuneração de cargos. Mato Grosso e Paraíba saíram na frente. Seguindo-lhes o exemplo, aumenta a pressão por reajuste em outras unidades da Federação. Não só: pautas-bomba tramitam no Congresso.

Impõe-se frear a insanidade. Como Roma, todos os caminhos levam a Brasília. O governo federal deve ser nacional: negociar e apresentar rumos. O primeiro desafio é o combate à pandemia. Há que articular, estabelecer normas e diretrizes gerais em relação à Covid-19. O segundo apontar caminhos para a pós-pandemia. É o que ensina a lição dos burrinhos.

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