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Está na hora de relaxar o distanciamento social?

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 30/05/2020 03:00 Atualizado em: 30/05/2020 06:51

As pressões econômicas e uma certa fadiga da população com o isolamento social/lockdown têm aumentado a probabilidade de relaxamento dessas medidas e retomada das atividades econômicas. Vários estados e municípios já estão tomando tais medidas. Infelizmente, os riscos de tais atitudes ainda são elevados, por duas razões. Primeiramente, porque não houve investimentos de forma adequada na expansão das infraestruturas de atendimento e ainda há estresse nos recursos disponíveis. Ainda faltam leitos, EPIs para o pessoal de saúde e mesmo pessoas para os atendimentos necessários. O cansaço da população com as notícias sobre esses problemas não significa que os estrangulamentos acabaram. Em segundo lugar, a comunicação das autoridades não conseguiu ajustar o discurso do “fique em casa” para o de que é necessário manter um comportamento de interação social que assegure um certo distanciamento e pouca probabilidade de transmissão do vírus. Nos supermercados e demais locais públicos em que a população interage há claramente erros de comportamento, com excessos de aproximação. O uso da máscara foi bem difundido, mas sabe-se que, embora muitíssimo importante, elas não são suficientes, caso uma distância regulamentar não seja mantida. Ou seja, é preciso mais comunicação sobre a importância de manter uma distância de pelo menos dois metros dos demais, mesmo que sejam amigos.

Além disso a taxa de contágio ainda está muito elevada e cada pessoa tem ainda contagiado mais de um outro indivíduo, tanto no Recife como em Pernambuco. Se supusermos que uma pessoa infectada passa 15 dias transmitindo o vírus, a taxa de contágio por indivíduo nessa semana ainda estava em cerca de 1,13 no Recife, 1,23 em Pernambuco e 1,37 no Brasil, nos últimos dias. Significa que o número de infectados a cada momento ainda vai continuar crescendo. Obviamente esses números são baseados apenas nos casos confirmados. Mas se a proporção dos identificados para os não identificados permanecer estável a relação, ainda assim, será esta. O que pode estar alterando essa relação é se houver limite na taxa de crescimento de testes ou se estiver caindo a proporção de testes positivos para negativos, o que indicaria a maior banalização deles. No primeiro caso, a proporção do grupo não identificado poderá estar ainda crescendo, enquanto no segundo ela estaria caindo. Mas não parece ser o caso de forma contundente tal que mude muito essas estimações de taxa de contágio.

Nos últimos 30 dias conseguimos impor uma tendência de redução de nossa taxa de contágio. Ela foi revertida entre 15 e 6 dias atrás, mas, após o lockdown, voltou novamente a cair nos últimos seis dias. No entanto, ainda está acima de 1 e está caindo de forma muito lenta. Isso significa que ainda temos que reduzir essa taxa de contágio e isso será bem mais difícil com o relaxamento das restrições. Para que qualquer relaxamento não seja catastrófico, serão necessárias algumas medidas. Primeiramente, precisa se ajustar o discurso de comunicação e ser forte na sua massificação, inclusive com visitas e comunicação in loco, onde as pessoas estão interagindo e comportando-se inadequadamente. Tem que se massificar uma mensagem do tipo: Estar a menos de 2 metros dos outros pode comprometer a sua vida. Além disso tem que se continuar com a expansão de capacidade instalada, talvez utilizando-se de mão de obra não médica para a realização de procedimentos que não requeiram vigilância e diligência técnica imediata. Além disso, eles podem ser apoiados por comunicação digital por médicos que não podem atuar na linha de frente (são grupos de risco), mas que poderiam orientar à distância por comunicação de vídeo e áudio. Pode se tentar requisitar para o suporte não médico as pessoas de nível superior já imunizadas (recuperadas). Ou seja, mudanças possíveis são necessárias antes de qualquer relaxamento do isolamento.

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