Diario de Pernambuco
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Chateação e perdigoto

Adhailton Lacet Porto
Juiz de Direito

Publicado em: 23/05/2020 03:00 Atualizado em: 23/05/2020 09:23

Faz parte do exercício de minha profissão escutar as pessoas. Com serenidade, paciência e atenção. No mais das vezes várias versões sobre o mesmo fato. Algumas narram suas histórias com objetividade, outras nem tanto.

Fora do labor diário também costumo escutar aqueles que me procuram. Não é demais dizer que diante de alguns interlocutores temos que ter muita paciência. É um falatório sem fim, adjetivado, cheio de floreio que circula e não chega a lugar algum. Lembro sempre da lição de Dad Squarisi, quando disse que “as palavras essenciais são os substantivos e os verbos. Adjetivos, advérbios e certos pronomes merecem cartão vermelho”.

Quem nunca se deparou com um sujeito maçante, que fala pelos cotovelos e acha que o outro tem disponível todo o tempo do mundo para escutá-lo? Às vezes, por penitência, se proporciona a orelha compassiva ao chato para que espraie e rejubile. O maior problema do engulhoso é a falta de concisão, não ter parcimônia com as palavras. Essa figura encontra-se em todo lugar: no trabalho, na fila de banco, no consultório do médico e o que é pior, na mesa do bar, transformando o que seria um saboroso bate-papo com amigos num martírio infindo. É aquele que ao vê-lo ao longe se aproxima, puxa a cadeira e, sem permissão, vai logo sentando e soltando a tagarelice. O enfadoso só é o que é porque fala. A chateação não encontra guarida no silêncio. O saudoso cronista pernambucano Antonio Maria dizia que o pior deles é o chato autobiográfico; aquele que vai narrando sua vida, seu dia a dia, e o pior de tudo, “chama a esposa de minha senhora e diz que troca de cuecas e camisa todos os dias”.

E se não bastasse o falatório, alguns niquentos costumam cuspir no rosto da gente. E não adianta limpar com lenço, pois ele não se toca. Agora com a recomendação do uso da máscara, para não se contaminar com o coronavírus, o chato evita contrair a Covid-19 e lançar cuspe no interlocutor. Porque chateação e perdigoto ninguém merece.

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