A falta que faz um "não sei"
Saulo Moreira
Jonalista
Publicado em: 29/05/2020 03:00 Atualizado em: 29/05/2020 05:39
Em 1998, no ano em que ganhou o Nobel de Litaratura, José Saramago (1922-2010), em entrevista à Revista Cult, falou sobre sua trajetória. Em dado momento, explicou a razão do longo intervalo entre o primeiro e o segundo romance de sua carreira.”...Percebi que não tinha tanta coisa para dizer, nada importante. E me calei, me calei por vinte anos praticamente.”
Penso que a humanidade conseguiria evoluir com mais civilidade e inteligência se todos seguissem o exemplo do escritor português. Mas parece que estamos na contramão da sabedoria de Saramago.
Nunca se viu tanta opinião abobalhada, tanto debate rasteiro, tanta certeza inquebrantável. Todos têm algo a dizer sobre tudo a todo momento. E poucos têm a grandeza de dizer simplesmente “não sei”.
São tempos sombrios, de uma náusea quase permanente.
Hidróxido de cloroquina, azitromicina, confinamento, lockdown e seus efeitos sobre a mente humana. Tem mais. PIB, medidas anticíclicas, formação de preços, câmbio, programas de renda mínima e a recuperação da economia. E segue o festival de atualidades desprovidas de senso crítico...A estratégia sueca, os números do coronavírus na Argentina, o ciclo de pestes na história da humanidade.
Especialistas de araque se multiplicam sem constrangimento. A ânsia pela aceitação turva o raciocínio, aniquila a humildade.
Com a popularização das redes sociais associada à pandemia da Covid-19, o Brasil ganhou milhões de pretensos cientistas, médicos, economistas, sociólogos, antropólogos. Mensagens e mais mensagens nos chegam a todo momento com explicações lunáticas, análises incompreensíveis, teorias fantásticas, referências mentirosas, links de matérias estranhas, vídeos obscuros, áudios de pessoas desconhecidas.
Cada um a defender não a verdade, mas informação que confirma seu próprio pensamento. Há ingenuidade? Por certo que sim. Mas há maldade também. Maldade e bots (mas isso é outro assunto).
Outro dia soube de uma nova versão para a propagação de fake news. A fim de evitar a vergonha de uma eventual reprimenda, alguém de um grupo compartilha a maluquice que o convém e logo embaixo escreve: “Procede, pessoal?” Ora, se não sabe, pesquise. Se não pesquisou, não divulgue.
Às vezes, lembro Eu também vou reclamar, canção na qual Raul Seixas em tom de deboche manda ver: “...e todo mundo explica tudo, como a luz acende e como o avião pode voar...”
A música é de 1976, período de ditadura militar. Nem todos podiam manifestar o que pensavam. Agora, felizmente, podem. O problema é que grande parcela dos que se manifestam hoje, o faz sem pensar.
Penso que a humanidade conseguiria evoluir com mais civilidade e inteligência se todos seguissem o exemplo do escritor português. Mas parece que estamos na contramão da sabedoria de Saramago.
Nunca se viu tanta opinião abobalhada, tanto debate rasteiro, tanta certeza inquebrantável. Todos têm algo a dizer sobre tudo a todo momento. E poucos têm a grandeza de dizer simplesmente “não sei”.
São tempos sombrios, de uma náusea quase permanente.
Hidróxido de cloroquina, azitromicina, confinamento, lockdown e seus efeitos sobre a mente humana. Tem mais. PIB, medidas anticíclicas, formação de preços, câmbio, programas de renda mínima e a recuperação da economia. E segue o festival de atualidades desprovidas de senso crítico...A estratégia sueca, os números do coronavírus na Argentina, o ciclo de pestes na história da humanidade.
Especialistas de araque se multiplicam sem constrangimento. A ânsia pela aceitação turva o raciocínio, aniquila a humildade.
Com a popularização das redes sociais associada à pandemia da Covid-19, o Brasil ganhou milhões de pretensos cientistas, médicos, economistas, sociólogos, antropólogos. Mensagens e mais mensagens nos chegam a todo momento com explicações lunáticas, análises incompreensíveis, teorias fantásticas, referências mentirosas, links de matérias estranhas, vídeos obscuros, áudios de pessoas desconhecidas.
Cada um a defender não a verdade, mas informação que confirma seu próprio pensamento. Há ingenuidade? Por certo que sim. Mas há maldade também. Maldade e bots (mas isso é outro assunto).
Outro dia soube de uma nova versão para a propagação de fake news. A fim de evitar a vergonha de uma eventual reprimenda, alguém de um grupo compartilha a maluquice que o convém e logo embaixo escreve: “Procede, pessoal?” Ora, se não sabe, pesquise. Se não pesquisou, não divulgue.
Às vezes, lembro Eu também vou reclamar, canção na qual Raul Seixas em tom de deboche manda ver: “...e todo mundo explica tudo, como a luz acende e como o avião pode voar...”
A música é de 1976, período de ditadura militar. Nem todos podiam manifestar o que pensavam. Agora, felizmente, podem. O problema é que grande parcela dos que se manifestam hoje, o faz sem pensar.
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