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O sedutor está de volta

Raimundo Carrero
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 06/04/2020 03:00 Atualizado em: 06/04/2020 07:21

Se há uma palavra que define exatamente o caráter literário do escritor Ariano Suassuna, ela é exatamente esta: sedutor, que ele empresta ao título desta novela típica de sua obra: O Sedutor do Sertão, agora publicada em igual edição sedutora da Nova Fronteira, sob os cuidados do filho Manoel Suassuna, Carlos Newton Júnior e Ricardo Gouveia.

O livro, que na verdade seria um roteiro cinematográfico, ficou na gaveta por muitos anos, desde 1966, atendendo a um convite. As informações jornalísticas não dão conta de onde partiu o convite, embora falem em falta de patrocínio que o autor não conseguiu.

Na verdade, numa amizade de 40 anos, Ariano nunca me falou deste projeto mesmo que estivéssemos sempre reunidos em conversas sobre  os nossos sonhos literários. Conversas de tardes e noites consumindo horas e horas com originais e anotações sobre a mesa.

Era uma pessoa muito difícil para visitas a amigos, mesmo aqueles a quem dedicasse maior atenção. Nos últimos anos, porém, depois que tive o AVC, costumava me visitar quase pelo menos três vezes por semana. Pela manhã, o poeta e assessor do mestre, Samarone Lima, me telefonava. Ariano quer saber se pode ir à sua casa hoje. Diga que sim e nem precisa me consultar.

Intrigava-me porque Ariano tinha uma norma: se visitava um amigo, esperava que ele retribuisse. Se isso não acontecesse, só voltariam a se encontrar na unversidade ou em reuniões. Por isso, estranhei as visitas quase diárias que, aliás, me agradavam muito. Eram uma conversa e tanto. O que me comovia e me alegrava muito.

Confidenciei a Marilena, minha mulher, Ariano quer me dizer alguma coisa. Ela respondeu, nada, ele está se solidarizando com o AVC. Insisti no motivo da visita. Das visitas. Meses depois, Samarone falou-me no prefácio a Dom Pantero. É uma honra, só enriquece meu currículo...

As visitas continuaram mesmo depois que entreguei o prefácio. Imagino agora que o mestre gostaria de falar deste sedutor e de outros projetos que, aliás, já estavam em andamento. Fica a certeza de que muitas coisas deixaram de ser ditas e que muitos projetos poderiam ter sido realizados.

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