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Mundo dos livros, crise, tendências e possíveis soluções

Antônio Campos
Presidente da Fundaj

Publicado em: 03/04/2020 03:00 Atualizado em: 02/04/2020 21:30

Estamos vivendo uma crise sem precedentes no mercado editorial brasileiro, agravada pela pandemia do coronavírus. Ninguém, nos meios editoriais do Brasil e de outros países de forte tradição na indústria de livros, suspeitaria, mesmo, dos acontecimentos cataclísmicos dessa nova pandemia. Se a época do livro impresso vinha sofrendo há mais de uma década – editoras e autores – os sinais de quedas de vendas e mudanças nos hábitos de leitura, uma descontinuidade preocupante em grande escala de vendas, nesta hora, com as livrarias vazias, os estoques acumulando-se, o que dizer?

Imagine um executivo desses conglomerados de editoras da Europa e dos EUA, sem falar dos brasileiros, que tivesse adormecido há 20 dias, exatamente antes da chegada dessa nova epidemia, acordaria agora com todos os seus projetos e investimentos levados à estaca zero, por ter o mundo mudado de forma dura, inesperada como um raio. Em poucos dias, seus negócios e investimentos, planilhas comerciais pautadas, direitos autorais adiantados, tiveram uma queda inimaginável. Na condição de também editor, uma experiência profissional com mais de uma década, devo ser otimista, e assim fui e vou continuar sendo, mesmo depois dessa virada de um novo mundo, um mundo que jamais será o mesmo. Em artigos de Imprensa e como conferencista, sempre defendi a continuidade do livro impresso. Mas, diante dessa realidade que temos de enfrentar, terei que me render, sem negar os meus hábitos de leitura, à evolução tecnológica, começada há menos de duas décadas. Ao fenômeno, cada dia crescente, em todas as esferas do conhecimento humano e científico, que o presente e futuro são mais digitais.

O fenômeno da utilização por editoras e autores do Instagram é uma realidade crescente. Plataformas como Árvore de Livros têm colocado títulos inteiros no Instagram Stories. Tem crescido o público de audiobooks. A empresa Ubook tem planos de ser a Netflix dos audiobooks, com projetos ambiciosos para o novo mundo que já  chegou, depois do coronavírus. Nessa época complexa e confusa de descontinuidades, é importante discutir a crise e possíveis caminhos. Um dos caminhos é a associação de editoras e a utilização de serviços de terceiros. Várias editoras estão usando a plataforma on-line da Companhia das Letras, por exemplo. Clubes de leitura como https://www.panaceiaclube.com.br/ têm crescido nesse cenário. O Magazine Luiza comprou a Estante Virtual seguindo o caminho de uma Amazon. O governo federal deverá também contribuir para mitigar tal crise.

No próximo 23 de abril é o Dia Internacional do Livro e do Direito Autoral, oportunidade de novas discussões. Acho que caminhamos para o autor se publicar, em plataformas digitais, linkadas a um blog pessoal, interagindo com redes sociais. O desafio é monetizar isso. Plataformas como Amazon (têm obtido uma expansão mundial) são uma das alternativas, entre outras.

Estamos na era da autopublicação, com plataformas próprias linkadas às redes sociais e plataformas on-line de publicação.  Um dos principais motores do crescimento cultural é o livro, seja qual for o seu formato. O livro como elemento imprescindível na construção das civilizações modernas.

A Fundaj, no próximo dia 23 de abril de 2020, sob a liderança da Diretoria Dimeca, dirigida pelo jornalista Mário Hélio, irá realizar de forma inovadora um encontro literário e de debates, em formato virtual, em homenagem ao centenário de Clarice Lispector e de discussão dos grandes desafios do livro e do mercado editorial na atualidade. Vale a pena conferir.

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