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Editorial Emergência rima com urgência

Publicado em: 03/04/2020 03:00 Atualizado em: 02/04/2020 21:30

Falar sobre a fome é diferente de sentir fome. Os discursos têm um quê de romantismo e também de distanciamento. Pressupõem uma relação vertical. As salas com carpete e ar condicionado dificultam a empatia com famílias que não têm o que comer. Palavras são incapazes de calar o clamor de estômagos vazios.

Embora o país esteja vivendo uma pandemia cuja imposição de isolamento social é indiscutível, o programa emergencial de atendimento a famílias de baixa renda tarda a chegar aos destinatários. Legislativo e Judiciário colaboram na gestão da crise. São 38 milhões de brasileiros que fazem jus ao pagamento de R$ 600 durante três meses.

Mães arrimo de família receberão o dobro. Beneficiários do Bolsa Família podem migrar para o novo benefício se lhes for conveniente. No total, os dispêndios devem alcançar de R$ 60 bilhões a R$ 80 bilhões, segundo o ministro Paulo Guedes. Assim, o programa foi tecnicamente planejado. Falta o passo seguinte — sair do papel e chegar aos necessitados.

Há que considerar também os prestadores informais de serviços (sem carteira assinada) e os trabalhadores por conta própria. Somados, atingem 46,8 milhões de pessoas — o correspondente a uma Argentina faminta.

Em momento como esse, escancara-se a dívida social do país. Há brasileiros sem endereço e sem conta bancária. Entregues à própria sorte, aglomeram-se em áreas de risco, sem acesso a água, esgoto, segurança. São brasileiros invisíveis — mas de carne e osso —, que precisam ser localizados para que o auxílio os alcance.

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