Diario de Pernambuco
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Uma pandemia mundial, o PIB e as eleições de 2020

Davi Barboza* e Fábio Jardelino**
*Professor e Doutor em Ciências Políticas
**Jornalista e Doutorando em Ciências da Comunicação

Publicado em: 10/03/2020 03:00 Atualizado em: 10/03/2020 08:59

Desde 2018, um ano após o fim da recessão brasileira que fez o PIB encolher 6,8% no biênio 2015/2016, estamos vendo as expectativas para o PIB nacional serem equivocadas. Ao que parece, os agentes econômicos estão sendo otimistas demais para um país politicamente polarizado, que passa por desafios sociais e econômicos. Segundo o Boletim Focus, que reúne a previsão de bancos, gestoras, consultorias etc., a estimativa do PIB na última semana de fevereiro nos últimos anos foi de 2,89% (para o ano de 2018), 2,48% (2019) e 2,17% (2020). Contudo, o resultado real para esse período, de acordo com o IBGE, foi de 1,3% em 2018 e, recentemente divulgado, 1,1% em 2019.

Na política, é notório que um bom crescimento econômico pode impedir crises e implosões institucionais, servindo inclusive para eleger/reeleger presidentes e aliados. Com isso podemos entender o interesse do governo federal, e as recentes pressões sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, para que o PIB brasileiro cresça acima de 2% em 2020. Mas, e se o PIB não crescer o esperado para este ano?

Com uma possível pandemia mundial do coronavírus, as economias dos principais parceiros comerciais do Brasil foram afetadas e isso já está refletindo na nossa economia. A China, que já vinha em processo de desaceleração em 2019, com o menor crescimento em três décadas, sofreu mais uma grande baixa provocada pela epidemia, levando a OECD a prever uma nova queda em 2020. Tentando combater o cenário que se desenha, os EUA reduziram os juros numa tentativa de estimular a economia - o primeiro corte emergencial desde a crise de 2008.

O mercado acionário, que representa um termômetro para a confiança de investidores, também tem oscilado bastante. Nas últimas semanas o mercado de ações europeu teve sua pior queda desde 2008. No Brasil, a Ibovespa chegou a cair 7% na quarta-feira de cinzas, sendo essa a pior sessão para um dia desde a divulgação da gravação entre Joesley Batista e o ex-presidente Michel Temer.

No atual cenário político, duas questões imbricadas merecem atenção. A primeira é a estabilidade política de Bolsonaro, que pode ser ameaçada caso tenhamos um “pibinho”. A segunda são as eleições municipais deste ano, quando provavelmente veremos uma forte disputa entre o lulismo e o bolsonarismo. O PIB e o desemprego serão importantes narrativas exploradas pelos candidatos de ambos os lados.

As cartas estão na mesa e o atual governo conhece as variáveis.  Se a economia nacional reagir e tivermos um PIB acima de 2%, junto com uma queda significativa no desemprego, teoricamente os candidatos governistas terão vantagem no pleito. Porém um possível baixo crescimento econômico, somado a um desemprego alto, dará certa vantagem para candidatos da esquerda. A resposta para essa incógnita, porém, só saberemos com o desenrolar do cenário internacional, somado à eficiência do ministro da Economia em lidar com esses problemas.

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