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Primeira Infância, mulher e mãe

Rogério Morais
Secretário Executivo para a Primeira Infância do Recife

Publicado em: 06/03/2020 03:00 Atualizado em: 06/03/2020 10:12

Não existe vida humana sem a gestação feminina. Nos primeiros anos após o nascimento, com o cuidado das mães, os bebês se desenvolvem de maneira determinante para a trajetória da vida. O leite materno é o alimento mais rico que um recém nascido pode ter, funciona quase como uma primeira vacina e promove o crescimento cerebral, segundo pesquisas recentes do departamento de pediatria do Children’s Nacional Hospital, em Washington DC.

Todavia a influência materna vai além de questões fisiológicas. Diversos estudos apontam forte correlação entre desempenho escolar dos filhos e escolaridade da mãe (de Coleman 1960, a Hanushek, 2003). As correlações entre as características do pai com os resultados de aprendizagem não apresentam a mesma força estatística. Ou seja, a presença e as interações da mãe parecem criar laços tão fortes, que também causam um impacto no desenvolvimento cultural do filho.

Portanto, políticas para a Primeira Infância são também políticas de gênero, de suporte às mulheres. No Recife, diagnóstico construído para dar base a elaboração do Plano Municipal para a Primeira Infância, aponta diretrizes para políticas públicas de apoio a mulher enquanto provedora das futuras gerações. Fica evidente que precisamos prevenir a gravidez na adolescência, correlacionada ao nível de escolaridade, e que impacta diretamente os partos prematuros, o baixo peso ao nascer e mortes evitáveis nos primeiros dias de vida. Também é fundamental a realização das 7 consultas durante o pré-natal, realizadas pelo programa Mãe Coruja, que acompanha a saúde do bebê, mas também da gestante.

Além disso, é preciso ter a consciência de que a grande maioria destas mulheres enfrenta este desafio da maternidade sem companheiros. O abandono paterno é um problema crônico no país, que tem 5,5 milhões de crianças registradas sem o nome do pai. Segundo uma pesquisa de 2019 da USP, tudo isso torna ainda mais difícil o retorno das mães aos estudos e ao mercado de trabalho, impactando diretamente na média de renda e desigualdade salarial com relação aos homens.

Assim, este é um quadro social que traz para os gestores públicos a noção da importância do estado como ator fundamental na busca do bem estar social. Políticas compensatórias e de apoio às mulheres são mais do que reconhecimento ou conquistas, e sim obrigação moral na busca por uma sociedade com valores e mais equânime, que cuida de quem cuida e dá à luz o futuro.

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