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O mito do empreendedor jovem

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois

Publicado em: 07/03/2020 03:00 Atualizado em: 08/03/2020 07:03

O mundo presenciou recentemente a ascensão de vários jovens empreendedores à elite dos empresários mundiais. Bill Gates (Microsoft), Steve Jobs (Apple), Michael Dell (Dell), Elon Musk (PayPal e Tesla), Mark Zuckerberg (Facebook), Sergei Brin e Larry Page (Google), entre vários outros. Em Pernambuco há os exemplos de André Ferraz (In Loco Midia) e Camila Coutinho (Garotas Estúpidas) como jovens que se tornaram milionários e que também contribuem para a formação do mito de que, nos novos tempos de um mundo digital, a pouca idade é a base para a criação de empreendimentos de sucesso. Os fatos, contudo, não mostram ser isso verdadeiro. A maturidade dos fundadores ainda é uma determinante fundamental do sucesso das empresas.

Os jovens possuem várias vantagens empreendedoras em relação às pessoas mais velhas. Antes de tudo, são mais afiados nos processos de aprendizagem, pois são mais abertos a novas ideias, até mesmo porque possuem menos ideias consolidadas. Ainda estão descobrindo o mundo de forma mais intensa e são menos presos a paradigmas pré-existentes, que limitam a criatividade individual. Além disso, comumente eles possuem menos responsabilidades familiares que tiram suas atenções do trabalho, aumentando seu foco profissional. Os empreendedores mais maduros, por sua vez, geralmente já construíram mais capitais humano e social, além de possuírem mais recursos próprios para investimentos. Isso reduz a percepção de risco pelos demais potenciais investidores. Além disso, possuem mais experiência nas relações profissionais, o que assegura uma melhor organização das empresas, sem deixar que alguns dos potenciais problemas, que toda atividade empresarial possui, venham a causar danos exagerados ao empreendimento. Por esses motivos, a maior maturidade dos fundadores das empresas poderiam ser um determinante dos seus sucessos. Ou seja, a teoria possui fundamentos diversos para justificar qualquer uma das conclusões quanto a maior probabilidade de sucesso dos empreendimentos. A conclusão passa a ser empírica e ter alcance limitado no tempo, no espaço e entre setores. É possível que uma verdade em momento específico e em um país ou setor de atividade não seja também verdade em outros ambientes.

Estudo recente por P. Azoulay (MIT e NBER), B. F. Jones (Northwestern University e NBER), J. D. Kim (MIT) e J. Miranda (U.S. Census Bureau), e publicado na American Economic Review (Insights) em janeiro de 2020, coletou informações sobre universo de empresas registradas no U.S. Census Bureau’s Longitudinal Business Database, que possuía 2,7 milhões de empresas fundadas entre 2007 e 2014. Eles identificaram a idade dos fundadores dessas empresas e criaram amostras delas em que o critério de seleção era o desempenho (taxa de crescimento do emprego e sucesso em IPOs) e sua inclusão em setores que podem as qualificar como empresas de tecnologia da informação. Em todos os percentuais de melhor desempenho, a idade média dos fundadores das empresas de tecnologia sempre esteve acima da idade média dos fundadores de todas as empresas. Ou seja, as empresas desse grupo cujos fundadores tinham uma idade mais avançada possuíam maior probabilidade de sucesso. Adicionalmente, empresas de tecnologia fundadas por empreendedores com 50 anos ou mais tinham 1,8 vezes maior probabilidade de estar entre as 1% ou 0,1% das empresas de maior crescimento do que aquelas fundadas por pessoas com 30 anos de idade. Por exemplo, fundadores com idades entre 20 e 25 anos possuem a menor probabilidade de sucesso entre as diversas idades. Ou seja, a juventude não é um critério positivo para o sucesso das empresas nos EUA. Fundadores de meia idade, entre 39 e 50 anos, dependendo do critério de sucesso e subgrupo utilizado, possuem maior probabilidade de levar a empresa ao sucesso.

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