Diario de Pernambuco
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Variações terminológicas

Vladimir Souza Carvalho
Presidente do TRF5

Publicado em: 01/02/2020 03:00 Atualizado em: 02/02/2020 06:59

Começo por União dos Palmares, depois do almoço, o cardápio do restaurante registrando a existência de doce de leite pastoso, o que me despertou à atenção. Me trouxeram o vaso. Era o mesmo doce que, em Sergipe, damos o nome de doce de leite batido. Igualzinho. Por outro lado, em Pernambuco, ou, pelo menos, no Recife,  jerimum é o nome que se dá a abóbora. Estranhei, porque, sergipanamente falando, lá a gente diz abóbora, dando o de jerimum a um tipo dela. Há uma outra, cognominada de lagarteira. A curiosidade me manda pesquisar. Obedeço: abóbora e jerimum são sinônimos, sendo jerimum o nome como é conhecido no norte da Guiné. Ainda, em hotel, em Salvador, recentemente, a banana veio, individualmente, enrolada num papel transparente, dando trabalho para ser retirado. Invoquei o vestido de noiva, e ela e noivo, no hotel, no enfim, sós, na pressa de se livrarem de tanta roupa...    

O leitor pode considerar desagradável a conversa, sobretudo se está de barriga cheia. Machado de Assis mandou a leitora, em Dom Casmurro, parar a leitura. Peço o contrário. Prossiga o leitor que eu faço o mesmo, e, então, trago um exemplo de sabedoria. O caruru, de origem africana, no plural, - carurus -  é sinônimo de quiabo, que, por seu turno, é termo americano. Pois bem. O caruru batizou um prato, e o quiabo, com o derivado quiabada, outro, ficando cada um imortalizado, satisfeito o ego da dupla.   

A conversa agora tem seu final, com a manga, e, lá vai, independentemente da reação de cada um, o seu nome: papo-de-rola. Eu, que já tenho uma boa quilometragem em matéria de manga, pelo menos, na arte de cortá-las e devorá-las, não conhecia. Tudo se passa no mercado de Jequié. Qual o nome dessa manga, indaguei ao vendedor. A resposta provocou risos de quem estava ao meu lado. Fui a fundo, encontrando alusões à dita manga em Salvador, ao lado da pingo-de-ouro, assentando se cuidar, quiçá, de terminologia específica do território baiano, porque manga semelhante, a parte do talo, como se fosse umbigo, escondida, se faz presente em outros estados nordestinos. A diferença é só o nome.

Participei da descoberta, afinal, ocorrida na véspera dos meus setenta anos, a diversos amigos. Um deles  considerou que deveria ser saborosa. Outro, observou apenas ser um belo nome. Outro, enfim, partiu logo para a briga, e, sem adornar as palavras de qualquer fineza, afirmou preferir a manga rosa. Imediatamente, respondi: eu também.

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