Diario de Pernambuco
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Os trens seriam bem-vindos

Maurício Rands
Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

Publicado em: 17/02/2020 03:00 Atualizado em: 17/02/2020 09:02

Tempos difíceis despertam nostalgias. Que podem ser regressivas. Mas que também podem trazer germes de futuro. Qualquer brasileiro sente nostalgia das estradas de ferro, mesmo que por aqui tenham sido poucas. Basta lembrar da canção de Milton Nascimento: Ponta de areia, ponto final... que ligava Minas ao porto, ao mar... Aqui em Pernambuco, as estações de trem do interior hoje são centros culturais. Sempre objeto do nosso carinho. Todos reclamamos da nossa opção pelo modelo rodoviário em território tão vasto. Coisa de um Juscelino apressado, seduzido pelas grandes fabricantes de carros americanas, argumenta-se.

O trem não deve ser relegado ao capítulo das nostalgias. Pode ser elemento para promover o desenvolvimento. Integrando nosso vasto território. E aumentando a nossa produtividade. Dilma tentou um programa para a construção de estradas de ferro. Às pressas, lançou o trem bala que ligaria São Paulo-Campinas-Rio. Pelo visto, a modelagem era falha. Tanto que não apareceram licitantes. A Transnordestina, sonho de todos nós, está parada. Mas que não seja pela eternidade.

Recentemente, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, relançou o projeto High Speed 2 (HS2). Hoje orçado em 106 bilhões de libras, a nova linha de alta velocidade pretende ligar Londres às cidades do Norte, Manchester e Leeds. Passando por Birmigham. Os trens poderiam alcançar uma velocidade de até 250 mph (402 km/h). Em sua edição de 15/2/20, o Financial Times deu o furo de que Boris Johnson deu sinal verde para que a empresa estatal chinesa China Railway Construction Corporation (CRCC) dialogue com a inglesa HS2 Ltd sobre o projeto. Logo depois de ter irritado Trump ao envolver a chinesa Huawei na rede de telefonia móvel 5G do Reino Unido. A CRCC promete reduzir prazos (de 2035 para 2025) e custos. Com a autoridade de quem construiu a maior parte da rede ferroviária chinesa de alta velocidade de 25.000 km. Nada menos que dois terços de todas as linhas de trem rápido do mundo.

Como ocorre com todo megaprojeto, muitos argumentam que o investimento não compensa. Que Johnson estaria apenas fazendo populismo de infraestrutura, depois que capturou os votos trabalhistas do Norte. Diz-se que os chineses não cumpririam a promessa, pois não conseguiriam se adaptar aos padrões ambientais, trabalhistas e de segurança do país. Ou que o dinheiro deveria ser gasto com a melhoria do transporte local. Ou que a linha causaria aumento das emissões de carbono, além de danos à paisagem natural e aos ecossistemas.

Polêmicas à parte, no Brasil a retomada dos investimentos em linhas férreas poderia ser um alento para o nosso desenvolvimento. Como fez Johnson, o atual governo poderia acenar para o Nordeste, região mais pobre e onde tem pouco apoio, com a retomada da Transnordestina. Temos uma legislação de parcerias público-privadas pronta para atrair investidores internacionais. Por que não procurar os chineses da CRCC?

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