Diario de Pernambuco
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Na direção certa: Paulo Caldas

Raimundo Carrero
Jornalista e membro da Academia Pernambucana de Letras
raimundocarrero@gmail.com

Publicado em: 03/02/2020 03:00 Atualizado em: 03/02/2020 10:13

Faz tempo devo este artigo a Paulo Caldas e, é claro, à literatura pernambucana, mas, de repente, o Brasil foi mudando tanto de direção, mesmo sob um mesmo governo, ora na educação, ora na cultura, ora na política, e direções tão apaixonantes, que fui obrigado a me manifestar, deixando de lado alguns deveres, sobretudo nesta área a que me dedico sistematicamente e que, por isso mesmo, é a parte central da minha vida.

Aliás, na direção certa está o escritor Paulo Caldas na lenta e vigorosa construção de sua obra literária, que é, afinal, o caminho de toda boa literatura. Apesar disso, parece-me que Paulo perdeu tempo, um tempo enorme com aquilo que ele chamou de literatura infanto-juvenil, que tem público fácil, mas perde a consistência da verdadeira obra de arte que ele conhece muito bem e pratica com muita qualidade. Literatura infanto-juvenil é uma invenção  da indústria editorial para chegar mais próximo do leitor, vencendo, sobretudo, a censura da Igreja, para quem só a Bíblia deve ser lida. Houve um tempo em que até mesmo a Bíblia era proibida e durou muito tempo. As moças, então, não podiam nem atravessar o Rubicon. E hoje são feitas acusações surgidas do nada, como se a educação fosse feita sem cultura. Mas a chamada literatura infanto–juvenil, belo produto industrial, foi sendo escritas por gente séria e competente até atingir a maturidade plena.

Paulo Caldas percebeu isso e deu cosistência àquilo que já vinha fazendo noutra área. Investiu em temas polêmicos como acontece agora em Numa Rua Perto do Centro, atacando o preconceito trazendo para a galeria dos seus personagens; tratando a frase com habilidade, cuidando da formação dos parágrafos, fazendo a obra investir no humano.  Aline Crispino chama a atenção para e metáforas, e cuida da narrativa entre a primeira e a terceira pessoas.Maturidade; isto chama-se maturidade, a que se chega com o exercício da obra, sem precisar recorrer ao artifício da literatura infanto-juvenil, como se os jovens não pudessem enfrentar o mundo cruel da maturidade.Literatura é sempre literatura.Seja de Dostoievski, Tolsti, Hemingway – seria O Velho e o Mar uma obra para jovens pelo tratamento da linguagem, composição de personagens e temática aparentemente apenas supersticiosa? Literatura não é para adultos ou para jovens. Não há temas agradáveis ou desagradáveis. É literatura. E Paulo Caldas prova plenamente.

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