Diario de Pernambuco
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MMA: a explicação que me falta

Vladimir Souza Carvalho
Magistrado

Publicado em: 29/02/2020 03:00 Atualizado em: 01/03/2020 10:58

Nenhum dos meus gosta das brigas do MMA. Cristiane não admite nem ouvir minhas observações, se afastando quando falo. Vladimir não ouve. Pedro ainda demonstra uma leve atenção por um ou dois segundos, se retirando do local, mudo de comentário. A mesma forma, não encontra receptividade no meio dos colegas de trabalho. Fico, então, isolado, e não tenho pejo algum em reconhecer que troco até o futebol pelas lutas, digo, brigas, do MMA, ligando a TV, na busca do canal que as transmite, ficando atento para, em outros dias e horários, me arriscar a tê-las, à minha frente e ao meu dispor, para meu deleite, me esforçando para não me distrair, preso as mesmas cenas, na busca da repetição dos murros fatais, que, desequilibrando o adversário, o levam a lona, onde, na maioria das vezes, é alvo de uma saraivada de socos, até o árbitro declarar o final da luta.

É certo que, em alguns instantes, gostaria de poder interferir, para aclamar a vitória de um, principalmente quando se apresenta com um olho totalmente inchado, o receio que um novo sopapo no local provoque cegueira. Me espanto com a resistência de uns que, quanto mais apanham, mais resistem, como se fosse um alcoólatra inveterado que bebida pouca não derruba.

No entanto, uma dúvida me assalta, dúvida que já alevantaram. Como explicar que um pacifista como eu, que nunca trocou tapa com ninguém, nem na infância, nunca se utilizou de um revólver para dar um tiro, nunca matou um passarinho, e, aliás, a exceção de ratos, formigas, baratas, muriçocas e afins, não tirou a vida de outro bicho, nem mesmo de sapo, como explicar, então, o gosto, pelo menos, até hoje, pelas lutas do MMA? Não sei. Desço até o fundo do poço para constatar que, talvez, encontre raízes nas brigas que a gente, em tempos de calção, via e gostava, dois meninos se preparando para o embate, palavrões mútuos com as respectivas mães, para, depois, se agarrarem no tapa, até que algum intruso desapartava os dois contendores.

As brigas do MMA representam ranço da selvageria que ainda não conseguimos vê-lo desgrudado, a tornar homens e mulheres – que também lutam – em galos de briga. Que fazer, se eu gosto de assisti-las?!. O melhor é não entender. A ignorância, às vezes, faz bem.

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