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Uma lição importante

Roberto Magalhães
Foi governador, professor de direito comercial e advogado

Publicado em: 25/01/2020 03:00 Atualizado em: 27/01/2020 09:05

Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura em 2010, nos transmite uma percepção notável quando, no livro de sua autoria, (O Chamado da Tribo – Grandes Pensadores do Nosso Tempo” Editora SCHWARTZ, RJ, 2018, pág. 202 ) ao dissertar sobre o jornalista, escritor e intelectual francês Jean François Revel refuta a visão pessimista de alguns intelectuais segundo a qual as sociedades abertas e democráticas correm o risco de serem subjugadas pela estratégia gramsciana de ocupação do poder.

Diz ele: “O meu otimismo se baseia em uma concepção antigramsciana: não é a inteligência que faz a história. De modo geral os povos, as mulheres e os homens sem rosto e sem nome, ‘gente comum’ como dizia Montaigne, são melhores que a maioria dos seus intelectuais: mais sensatos, mais pragmáticos e mais livres na hora de decidir sobre assuntos sociais e políticos. Se não fosse assim, não haveria na América Latina a quantidade de tantos governos civis que há hoje nem teriam caído tantas ditaduras nas últimas décadas”.

Esta observação de Vargas Llosa me faz lembrar a eleição de Jair Bolsonaro, que surpreendeu a tantos, inclusive a mim. Nele votei sem o conhecer pessoalmente, embora tenha eu sido deputado federal por um total de quatorze anos, divididos em dois períodos. E é fácil explicar, votei para evitar que retornassem ao poder os que foram responsáveis pela corrupção sistêmica e o escândalo desvendado pela Operação Lava-Jato. Certamente, nele votaram pessoas comuns, simples, mas sensatas e honestas.

Entretanto, é preciso ressalvar que uma grande parte do Brasil desenvolvido e responsável também votou assim, Sul, Sudeste, importantes estados do Centro Oeste e o nosso Nordeste, sempre querido, ainda que minoritariamente.

A tese de Gramsci, quanto à importância do papel dos intelectuais orgânicos na estratégia da esquerda foi decisiva para o avanço dos partidos antiliberais até 2018, graças a uma maior divulgação entre nós do seu pensamento. É provável que os primeiros escritos de Gramsci tenham chegado ao Brasil nos idos de 1947, mas com certeza as primeiras traduções e edições somente tiveram lugar em 1966, face à iniciativa da Editora Civilização Brasileira, de Ênio Silveira.

Mas é fundamental que possamos seguir em frente, seguros de que a Democracia poderá sempre se defender pelo voto livre, pragmático e honesto.

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