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O consumismo que gera endividamento

João Paulo de Siqueira
Professor. Mestre em Consumo e Desenvolvimento Social. Membro da Academia Brasileira de Direito Civil.

Publicado em: 15/01/2020 03:00 Atualizado em: 15/01/2020 08:48

O endividamento, em suas amplas causas e perspectivas, é tema recorrente na mídia, sobretudo nessa época do ano quando a euforia do mês de dezembro e todas as confraternizações, festas e o “poder do 13° salário” passam, e parece que a realidade aterrissa e mostra sua face verdadeira.

Inúmeras são as causas do endividamento das famílias brasileiras: salários estagnados, falta de educação financeira, desemprego, juros exorbitantes, inflação real elevada, alto custo de vida, dentre outras tantas. Mas neste texto, quero focar num dos principais motivos do descontrole financeiro de tantas pessoas: o consumismo.

Na sociedade contemporânea, o ato de consumir apresenta-se de maneira muito complexa, não há o consumo somente de bens, mas de signos. Consumir representa simbologia, status, vaidade, autoafirmação, estilo de vida, construção e afirmação de identidades, em outras palavras, o consumo é algo totalmente cultural, pois é a cultura que emprega significados aos nossos atos cotidianos.

E, lamentavelmente, nossa cultura não privilegia o consumo lúcido e consciente, vivemos numa sociedade que estimula o consumismo e todas as suas consequências devastadoras: dívidas, descarte irresponsável, desequilíbrio emocional, dependência tecnológica, baixa durabilidade dos produtos e, contraditoriamente, insatisfação e inquietação.

Pois a satisfação do consumidor deve ser instantânea e volátil, sendo rapidamente suprimida e transformada em um novo desejo, pois o que se objetiva não é construir um consumidor pleno e satisfeito, mas sim um consumidor desejante e inquieto por novas aquisições, é preciso que estejamos em constante estado de pronta insatisfação.

E esse panorama transforma o consumo, que pode sim ser saudável e benéfico, em consumismo, fazendo com que muitas pessoas encarem a compra, o consumo como um escape, uma ilusão, uma maneira de preencher algo que não está bem em suas vidas.

Não se busca a plena utilização dos bens, pouco importa se realmente necessitamos ou temos aptidão e conhecimento para manusear e usufruir dos objetos adquiridos, pois a cultura consumista impõe o esquecimento e o rápido descarte e não o aprendizado e o apego. O que se objetiva é o estímulo constante pela busca de novas excitações e experiências, pois nos dias atuais, os consumidores são primeira e principalmente acumuladores de sensações.

No momento da compra, os sentimentos de prazer, excitação e poder são fortes, mas lamentavelmente são também frágeis e rápidos, mas as consequências financeiras são longas e terão reflexos na fatura do cartão de crédito, no saldo bancário, nas parcelas dos empréstimos…enfim, criam um endividamento complexo, gerando preocupação, aflição, incerteza, que serão “curados’ com uma nova compra impulsiva.

E dessa maneira o ciclo se perpetua, e a plenitude não vem. Dessa forma, pensemos que um consumo consciente e ponderado pode ser muito benéfico e prazeroso, mas o consumismo, que é a forma patológica do consumo, traz um prazer fugaz, mas consequências duradouras e preocupantes.

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