Diario de Pernambuco
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Mediocridades

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 23/01/2020 03:00 Atualizado em: 23/01/2020 09:01

O mundo de hoje parece o reino incontestado das mediocridades. É curioso isso: haver gerações em que avultam grandes homens – na política, nos negócios, nos governos (para o bem e para o mal), na literatura e na filosofia, na criação e no pensamento; e outras há em que o que abunda são as mediocridades. Geração de grandes homens foi, por exemplo, aquela do miolo do século 20; geração de mediocridades espantosas é esta atual. Tanto no plano mundial quanto no nacional. E também no local – ao passo que do Pernambuco daquelas décadas centrais do século 20 se pode dizer que foi um “Pernambuco de ouro”. Claro que sempre existem, ainda hoje, alguns bons valores – mas são raros, talvez raríssimos. O comum, atualmente, é a indigência, a mediania, a penúria intelectual e moral, a ausência de gênio e de grandeza. São meramente bonzinhos, dá para ler ou para ouvir – mas sem nenhum gosto, nenhuma entusiasmo, aquela vibração que o talento verdadeiro suscita.

Intelectuais francamente de quinta categoria são transformados em ícones da educação e da cultura universais. Meros reis das obviedades, do consabido, das platitudes. Sem originalidade alguma. Sem pensamento próprio. Sem penetração e sem profundidade. Mestres das banalidades. Não há mais grandes estadistas, pensadores instigantes, romancistas das grandes agonias do homem, nem pintores, como aqueles gigantes, que renovaram a contemplação da beleza.

Nem por serem medíocres são menos incensados. Até se poderia dizer o contrário: quanto mais medíocres, mais incensados. Em muitos casos, porque sabem, como ninguém, cultivar a arte da bajulação, da autopromoção, do elogio mútuo, do afago inebriante e embriagador. E formam um comércio. Como sabem que o outro gosta da adulação, adulam, para também serem adulados. Citam, para serem citados. Lisonjeiam, esperando retribuição. E ela vem. O mundo se basta a si mesmo.

Noutros casos, por trás de muitos desses endeusamentos há, é evidente, a vasta e impressionante rede com que as esquerdas dominam o pensamento mundial. Basta um sujeito se anunciar como de esquerda, e logo um côro se ergue, a jurar a genialidade dele. E ninguém balbucie o contrário, enuncie a pura verdade. Será unissonamente execrado, como o menino da fábula que ousou dizer que o rei estava nu. Pois a verdade é que, muitas vezes, o tal personagem é de fato elementarmente medíocre, simplório, fraco, vazio. Claro que há, também na esquerda, gente de valor, e de muito valor – quase digo que “havia”. Em matéria de educação no Brasil, por exemplo, a grande figura de Darci Ribeiro, ou Anísio Teixeira. Claro também que essa mediocridade é a regra hoje igualmente no outro lado, na chamada “direita”.

A mediocridade é geral. Intelectuais irrelevantes, de quinta categoria; líderes governamentais simplesmente medianos (na melhor das hipóteses); criadores (romancistas e poetas) dispensáveis. Que pensadores se comparam hoje a um Maritain, um Husserl, um Bergson,  ou, entre nós, a um Gustavo Corção?  Que líderes mundiais atuais equivalem a um Churchill, um Roosevelt, um Adenauer, um Kennedy, um Nixon, um De Gaulle – mesmo a ditadores malignos como Hitler, Stalin, Mao, Fidel? Que romancistas se equiparam a um Graham Greene, um Durenmatt, um Wylliam Styron, um Conrad, um Simenon?  Ou, no teatro brasileiro, a um Ariano Suassuna? 

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