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Compaz Miguel Arraes, uma reverência às mulheres do Recife

Paulo Roberto Xavier de Moraes
Advogado e Secretário Executivo de Segurança Cidadã do Recife

Publicado em: 23/01/2020 03:00 Atualizado em: 23/01/2020 08:59

Desde o último mês de dezembro o recifense passou a contar com mais uma Fábrica de Cidadania, o Compaz Governador Miguel Arraes. Cravado no bairro do Zumbi, no entroncamento da via que desde os primórdios da cidade serviu de interligação entre o Porto e o interior: a estrada Caxangá.

No passado esse caminho levava à Várzea, sede paroquial que atendia aos engenhos da região da planície do Capibaribe. Agora, com o novo Compaz este é um caminho que leva a um futuro muito melhor na vida de mais 283.079 habitantes do Recife (IBGE 2010).

E vai além, passa a se constituir em terreno fértil para a construção de novas relações sociais, baseadas na cidadania, cultura de paz e no respeito aos direitos humanos, sendo o novo centro comunitário pura inspiração. Reúne conjunto de equipamentos que rendem homenagem a figuras singulares, permeado por intervenções artísticas em grafite, exibindo um museu ao céu aberto.

O primeiro homenageado “Doutor Arraes”, ex-prefeito da cidade do Recife, três vezes governador de Pernambuco, verdadeiro símbolo da luta pelos mais necessitados, representados no seu acordo do campo, nos programas Chapéu de Palha e Puz para Todos, simbolizando ações que “levaram mais vida para a vida de muitos pernambucanos”. Manifestou, ainda, a resistência ao arbítrio e à violência dos que no alvorecer do golpe militar de1964 tentaram calar sua voz, fazendo necessário e imperioso destacar esse episódio em grande mural que associa os canaviais do estado aos mouros, representantes da Argélia que o abrigou com sua família no exílio. Além disso, são lembrados os expoentes do MCP - Movimento de Cultura Popular, a histórica política cultural de suas gestões, tais como Francisco Brennand, Lula Cardoso Ayres e Abelardo da Hora.

Todavia, o grande destaque neste novo espaço são as mulheres que nele são reverenciadas, as quais somam histórias de luta que tão bem representam o que o projeto Compaz significa na sua essência: a transformação.

O cineteatro com todos os recursos audiovisuais de última geração é denominado Teresa Batista. Mulher negra e pobre, moradora do Porto da Madeira, sendo simplesmente a compositora da Marcha nº 1 “Vassourinhas” (junto com Mathias da Rocha)  verdadeiro símbolo do carnaval pernambucano há mais de 110 anos.  

A biblioteca viva tem o nome de Julia Santiago, operária que trabalhou na fábrica de estopas que funcionou naquele mesmo espaço e que ajudou a fundar o Sindicato da Fiação e Tecelagem de Pernambuco e ingressou no Círculo Operário Católico do Recife. Vanguardista, atuou fortemente na alfabetização de mulheres e na luta pela emancipação feminina e por direitos iguais.

Já o Centro de Referência em Assistência Social - CRAS, onde a população terá acesso integral às políticas públicas de assistência e desenvolvimento social, foi nominado D. Rosilda Alves Mendes. Uma das mulheres mais queridas e aguerridas na Comunidade do Sítio do Berardo, de origem humilde, contribuiu com seu trabalho na mesma fábrica que ali funcionou, criando 10 filhos, dos quais 5 deles ainda residem no mesmo local com suas famílias, em terreno adquirido pela sua mãe.

É desse modo que o novo Compaz Miguel Arraes se junta aos seus congêneres (Compaz Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha, e Compaz Ariano Suassuna, no Cordeiro) formando uma rede que semeia esperança em comunidades que passaram a sonhar e conquistar uma vida melhor.

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