Diario de Pernambuco
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A volta do contador de histórias

Meraldo Zisman
Médico, psicoterapeuta, consultante honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha) e imortal pela Academia Recifense de Letras

Publicado em: 03/01/2020 03:00 Atualizado em: 06/01/2020 09:24

É no relato de um bucólico contador de estória, nas feiras e praças desses Brasis, que se perpetuam as tradições e singularidades das gentes do subcontinente [brasileiro]. São lendas e verdades; crenças e crendices; episódios e acontecimentos; casos e causos; estórias e histórias, vitórias e derrotas; cantorias e cantos, fartura e pobreza; alegria e sofrimento; nascimento e morte. Cordel e viola; bicho e gente. Operário e patrão; empregado e desempregado; pobre e rico. Depoimento oracular da gênese do Povo Brasileiro. Fenômeno Universal…

Não é à-toa que está na moda, nas escolas, ajustar contratos com os contadores de história, leitores em voz alta. Os cantadores são comuns no Nordeste, cantam versos de sua própria autoria ou repetem composições alheias ou, ainda, histórias tradicionais da memória coletiva.

Geralmente, não possuem boa voz, têm uma maneira de cantar seu canto acompanhando os versos. O resultado é agradável. São os jornalistas do sertão, contando e cantando a história dos homens famosos, acontecimentos importantes, aventuras e casos extraordinários, histórias tradicionais europeias, principalmente da península ibérica, ou contos e cantos populares, de origem indígena ou africana.

Qualquer que seja o tema, porém, o final é o mesmo: todo ato justo é recompensado; os inocentes são vingados; a bondade triunfa. Toda essa literatura, em verso ou em prosa, é impressa, de modo rudimentar, em folhetos – é a “literatura de cordel”.

Será bom rememorar que a arte literária ultrapassa a conjuntura abrangida pela mídia e inventos eletroeletrônicos. As inseguranças provêm de uma ênfase muito acentuada na ciência e procedimentos.

As conquistas científicas aumentaram muito o conhecimento e o poder do homem, mas deve ser ensinada a pessoa a utilizar este “poder”, de maneira sensível e moral.

O perigo da tecnologia é implantar no Homem a convicção enganosa de que ele é onipotente, impedindo de ver sua imensa fragilidade. A grande ditadura da técnica se aproxima para libertar as pessoas de certos problemas e escravizá-los aos botões de comando.

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