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A luz severa dos alunos

Raimundo Carrero
Jornalista e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 27/01/2020 09:00 Atualizado em:

Existe uma  luz severa? De onde vem? Sim, existe, é verdade. Vem da alma, daquele instante em que a dor se torna insuportável, atravessa o corpo e toma forma, substitui a cor , mergulha no abismo. Será isso que meus alunos da Oficina de Criação literária querem dizer com a publicação desta antologia Luz Severa, reunindo o que de escreveram de melhor neste ano de tanto entusiasmo. Sim, porque é preciso muito entusiasmo para escrever um livro assim. Claro, e dor. Porque a criação exige muita dor, naturalmente e inevitável. Tudo isso vem da solidariedade que todo artista deve ter com os maltratados da vida. Daqueles que são marginalizados pela sorte.

Esta é a lição que os alunos me deram escrevendo estes contos antológicos, decisivos e belos. Na verdade, embora tenha acompanhado o da a dia da criação, participando das alegrias e das decepções, porque todo escritor se decepciona pela angústia de inventar  e a angústia é prazer e dor, um passando por dentro da outra, sem identificação. Por isso advirto sempre que no plano da criação existem dois tipos, a angústia existencial, que deprime e oprime, e a angústia criadora – nome do blogue do ótimo Ney Anderson -, que eleva e enleva, provocando a criação.

No dia a dia da oficina, eles se debateram entre as aulas e os textos, criando, criando sempre. Precisam ser lidos imediatamente. Já não são apenas aspirantes ou projetos, são escritores de obras realizadas. De conto pronto. Sabem que não se muda uma palavra por causa da frase, mas por causa do personagem. Uma palavra pertence ao personagem, e não narrador ou aos dois. Aí está o segredo. Não é uma questão de rima ou de gosto. É uma questão de vida. E é vida que está em jogo na obra literária. O personagem pulsante e pulsando.

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