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Pessimismo e realidade

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois

Publicado em: 14/12/2019 03:00 Atualizado em: 16/12/2019 09:44

A Unimed presenteou os pernambucanos com duas palestras instigantes proferidas na segunda-feira passada. Uma com Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, e a outra com Gerson Camarotti, jornalista da Globo. Falaram sobre perspectivas econômicas e política, respectivamente. A visão econômica de Gustavo Franco foi bem pessimista, defendendo que o Brasil é um país afundado em estagnação há 50 anos e que deverá continuar assim nos próximos 50 anos, se não houver grandes mudanças. Ele acredita que a baixa taxa de poupança dos brasileiros, metade da dos países asiáticos, e também do setor público doméstico, com tendência persistente a gerar déficits, seriam os determinantes dessa baixa taxa de crescimento. Dá um peso menor à estrutura institucional, que tem sido a principal causa do lento crescimento, segundo vários economistas, entre eles Samuel Pessoa, que também visitou o Recife recentemente.

Para impressionar a audiência, Gustavo Franco apresentou alguns dados que são difíceis de serem encontrados. Segundo ele, o PIB brasileiro atual é o mesmo do que o do início da década de 1970, quando medido em dólar, mesmo sem descontar a inflação americana. Mas os dados do Banco Mundial mostram uma realidade diferente. Em 1970, o PIB brasileiro medido em dólares americanos foi de US$ 42,3 bilhões, enquanto ele atingiu US$ 1,87 trilhões em 2018. Mesmo se descontar a inflação americana (a dólar de 2010), esse PIB foi de US$ 447,4 bilhões em 1970 e US$ 2,31 trilhões em 2018. Se considerarmos o PIB per capita em dólar americano, teríamos US$ 445,02 em 1970 e US$ 8.920,76 em 2018. O PIB per capita a preços constantes também cresceu muito, passando de US$ 4.704,32 para US$ 11.026,24 em 2018 (US dólar de 2010). Ou seja, não há como encontrar essa estagnação secular alarmada. Todos esses dados são do Banco Mundial.

Para que o Brasil em 50 anos atinja o PIB per capita americano atual, essa variável teria que crescer 3,25% ao ano, enquanto crescemos apenas 1,97% ao ano entre 1968 e 2018. No melhor período recente, que foi entre 2003 e 2014, o PIB per capita brasileiro cresceu apenas 2,67%, ainda bem inferior ao que seria necessário para atingir o PIB per capita americano de 2018 (valores constantes). Uma análise de todo o século passado e o que já temos do século XXI, mostra que atingimos nosso pico de proporção do PIB per capita em relação ao resto do mundo em 1980. De lá para cá temos enfrentado queda nessa proporção (dados organizados por mim a partir do Madison Project e Total Economy Database, do The Conference Board). Ou seja, os dados indicam que, embora a situação não seja catastrófica como defendido por Gustavo Franco, o Brasil precisa de mudanças estruturais profundas para acelerar o crescimento.

A taxa de poupança do Brasil é realmente baixa, mas tal restrição pode ser vista como consequência da estrutura institucional e do baixo nível educacional de nossa população. Caso haja mais investimentos, as empresas automaticamente começam a poupar mais para pagar as dívidas assumidas para realizar esses investimentos. Com isso a taxa de poupança sobe. A deficiência na educação da população, por sua vez, nos torna pouco competitivos, especialmente em um mundo que as novas tecnologias demandam mão de obra de alta qualificação. A estrutura institucional, por sua vez, eleva muito os riscos envolvidos em empreendimentos no Brasil, além de direcionar uma parte grande de nossos recursos para atividades meios, que não agregam valor para a sociedade. Nossa justiça é inchada por excesso de disputas e as incertezas quanto ao cumprimento dos contratos são muito elevadas. Ou seja, mais educação e melhores instituições são o que poderá elevar a taxa de crescimento da economia brasileira.

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