Diario de Pernambuco
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O taumaturgo setentão

Adhailton Lacet Porto
Juiz de Direito

Publicado em: 04/12/2019 03:00 Atualizado em: 04/12/2019 09:49

Ele é um pernambucano que já levou sua arte para outros lugares do mundo. Agora promete que vai fazer você voar. Já passou das sete décadas de existência trazendo consigo uma imensurável contribuição à cultura brasileira, mormente à nordestina, região de onde extraiu o substrato de sua obra.

Foi na minha adolescência que comecei a ter contato com sua arte. E eu já desconfiava que por trás daqueles cabelos longos, deixados crescer de uns anos pra cá, tinha uma mente pulsante, montada no futuro indicativo.

Saiu de São Bento do Una e foi danado para o mundo com vontade de cantar. De Gonzagão e Jackson do Pandeiro sofreu influência, e passou a fazer uma música que até então no Brasil ninguém fazia. Cantou maracatu, coco, cantiga de viola, xote, ciranda, baião e frevo de uma maneira muito peculiar. Afirmo, sem medo de errar, que ele interpreta como ninguém as trilhas sonoras das duas grandes festas brasileiras: o São João e o carnaval. É um milagreiro da música popular que agora também pontua no cinema, atrás das câmeras.

Amou a morena tropicana e a bela da tarde, mas em fevereiro convoca o pessoal e a moçada parao carnaval que começa com o Galo da Madrugada. Subindo e descendo ladeiras, hoje é um monumento vivo da cidade de Olinda. Talvez a advocacia e o jornalismo tenham perdido um profissional mediano, mas a música popular brasileira ganhou um dos seus maiores representantes. Ele que “só acredita em vento que derruba prateleira, quebra portas e vidraças e assanha cabeleira”, chegou aos 73 anos mais vivo do que nunca. Ele, cuja sonoridade de seu nome, me inspirava a apresentar-me às meninas com a seguinte reverência: Muito prazer, ao seu..., e a moça um tanto curiosa, indagava: Alceu? E eu completava: ao seu dispor. E nessa pisada conquistei alguns corações bobos. Salve, Alceu Valença! Vida longa ao taumaturgo setentão.

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