Diario de Pernambuco
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O livro de Roberto Magalhães

Maurício Rands
Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford
twitter: @RandsMauricio

Publicado em: 02/12/2019 03:00 Atualizado em: 03/12/2019 10:37

As paixões políticas têm se exacerbado pelos cálculos táticos feitos pelo Bolsonarismo e pelo Lulopetismo. Nas hostes do primeiro movimento, interessa a radicalização retórica para mobilizar uma militância que pode estar começando a perder ânimo diante dos desacertos do governo neste primeiro ano. De consequência, reedita-se a tática bem sucedida nas eleições de 2018 de apresentar-se como a única opção forte e determinada o suficiente para impedir a volta do PT. Numa nova conjuntura em que a direita não mais se apresenta envergonhada, como analisa o cientista político Octavio Amorim Neto, da FGV-Rio, o Bolsonarismo radicaliza para conquistar a hegemonia em seu campo político. Nas hostes do Lulopetismo, ainda parece prevalecer a velha tática de Lula de radicalizar por baixo para se apresentar como conciliador perante a turma do andar de cima. Ambos, além de tentar consolidar a hegemonia em seus respectivos campos, buscam avançar sobre o centro. Ou sobre os setores que não se identificam originalmente com os dois polos.

Nesse contexto de radicalização, convém revisitar os fundamentos da nossa democracia assim como extrair algumas lições de nossa História. E, para isso, convém ouvir a experiência de quem tem acúmulo suficiente para nos ajudar a refletir sobre o passado e imaginar um futuro melhor. É o que faz Roberto Magalhães em seu livro Brasil: Lições do passado e desafios do século XXI. Do alto da maturidade de uma vida pública de décadas, o autor, advogado e professor de direito, foi governador de Pernambuco, prefeito do Recife, secretário de educação, deputado federal e presidente da Comissão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Como governador, além da obra administrativa, cumpriu importante papel na criação da Frente Liberal que reuniu outros governadores e grandes personalidades para cimentar a Aliança Democrática que elegeu Tancredo Neves e decretou o fim do regime militar. Por pouco não foi vice-presidente da República. Foi quando, na convenção do PSDB que escolheu a chapa para a disputa presidencial de 1989, foi eleito candidato a vice-presidente de Mário Covas. Uma chapa que, para todos os analistas daquela conjuntura, era fortíssima. O episódio nos lembra da força política que Pernambuco sempre teve no cenário nacional. Uma força quase sempre maior do que o peso da nossa economia e que hoje se encontra atipicamente reduzida. Como talvez nunca antes tenha estado.

É num momento como o atual que Pernambuco mais precisa ouvir suas lideranças que têm experiência, serviços prestados à causa pública e respeito nacional. Como ocorre com Roberto Magalhães que, em boa hora, compartilha sua visão sobre os alicerces históricos que nos ajudam a entender como o Brasil deu no que deu. Em seu livro, ele analisa a importância do combate à corrupção, depois de registrar como essa chaga esteve onipresente em nossa história. Identifica, nesse ambiente radicalizado, um papel estratégico para o Poder Judiciário como força moderadora e mediadora de conflitos. Um papel que, para ser bem exercido, demanda a melhoria da qualidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal. O que poderia ser facilitado pela reforma do processo de escolha de seus membros, com a introdução do mandato temporário com prazo certo. Como ocorre com as cortes supremas de outros países. Para a construção do nosso futuro como nação em processo de tão profundas mudanças, Roberto Magalhães, com sabedoria, convida-nos a revisitar os momentos de grandeza cívica de nossa história. E, dialogando com as forças que hoje se radicalizam cada vez mais, conclama-nos a encontrar áreas de convergência para buscar consensos possíveis na imensa tarefa de reinventarmos um país que ainda não deu certo. Dá-nos um testemunho de que podemos construir práticas políticas capazes de transcender as paixões atuais que nos estão paralisando e dificultando a superação da crise atual. Sua longa trajetória, todos reconhecem, é um exemplo de honestidade, honradez e dedicação à causa pública. Deve nos inspirar, sobretudo em tempos em que a nação faz um acerto de contas com a corrupção e a falta de espírito público de tantos dos seus representantes. Em tempos tão tóxicos, faz bem ouvir a voz de um político experiente, correto e de grande capacidade de diálogo como Roberto Magalhães. Sobretudo aos mais jovens que às vezes pensam saber mais do que realmente sabem.

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