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Gugu Liberato faz explodir doação de órgãos

Cláudio Lacerda
Cirurgião e professor da UPE e da Uninassau

Publicado em: 11/12/2019 03:00 Atualizado em: 11/12/2019 09:33

Nossa equipe multidisciplinar, sediada no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, da UPE, realizou, na quarta-feira passada, nada menos que três transplantes de fígado em 24 horas: no IMIP e no Jayme da Fonte, em Recife, e no Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa. Ao longo da última semana, foram seis transplantes, número jamais alcançado em toda a nossa história. E esse fenômeno não está ocorrendo apenas em nossa unidade. Embora os números oficiais não tenham sido divulgados ainda, a avaliação que os transplantadores de órgãos no Brasil têm feito, pelas redes sociais, é de que, desde a trágica morte do famoso apresentador de televisão, e da doação dos seus órgãos pela família – posto que em vida havia manifestado esse desejo –, o número de doações no país cresceu exponencialmente.

Isso talvez se deva ao fato de o percentual de recusa familiar, no Brasil – que andava por volta de 50% – ter sofrido a influência do gesto exemplar do carismático e popular ídolo e experimentado uma queda substancial.

No cenário internacional, os países conhecidos pelo desempenho paradigmático em captação de órgãos são a Espanha e a Croácia. Neles, praticamente não há sofrimento nem morte em lista de espera. Porque são viabilizados para transplante de múltiplos órgãos cerca de 35 doadores por milhão de habitantes ao ano. Nos Estados Unidos, esse número é de 25. No Brasil, não chega a 17.

Se considerarmos os nossos índices de violência e de acidentes de trânsito – sobretudo de moto, que estão entre os maiores do mundo, com imenso contingente de potenciais doadores por morte cerebral, em nossas unidades de terapia Intensiva – somos levados a concluir que podemos melhorar muito, a curto e a  médio prazo, objetivando reduzir ao mínimo o tempo de espera e, por consequência, a mortalidade em lista.

Gugu Liberato, artista que em vida proporcionou tanta diversão e tanta felicidade, para tanta gente, agora, no seu último ato, proporcionou a recuperação de inúmeras vidas. Diretamente, de dezenas de pessoas, com a doação dos seus órgãos, e, indiretamente, de milhares de outras, com o seu gesto exemplar de grandeza e solidariedade humana. Que Deus o tenha no lugar que merece.

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