Diario de Pernambuco
Busca
É grave o estado da escola pública

André Régis
Vereador do Recife pelo PSDB, professor da UFPE e PhD em Ciência Politica pela Universidade de New York

Publicado em: 19/12/2019 03:00 Atualizado em:

Defender uma escola decente para as crianças pobres é a meta que adotei desde meu primeiro mandato, em 2013, no honroso cargo de vereador do Recife. Alicerçado pelas experiências acadêmicas enquanto professor com doutorado na UFPE e título de PhD em Ciência Política obtido em universidade de New York, optei por um caminho pragmático. Graças ao convívio com os meus alunos tive o privilégio de formar uma equipe de alto nível na composição de meu gabinete legislativo, cujo suporte viabilizou a realização de um projeto tido como inédito em nível parlamentar no Brasil. Depois de um ciclo de seminários e discussões internas definimos uma estratégia ousada destinada a nos revelar a real situação, sem retoques nem subterfúgios, do sistema de ensino público no Recife. Desde então passamos a inspecionar detalhadamente, dentro de um rigoroso organograma de visitas e revisitas constantes, todas as 320 escolas e 80 creches mantidas pela prefeitura do Recife com o dinheiro do contribuinte. O cenário que se nos apresentou é assustador e explica as razões pelas quais as nossas autoridades públicas evitam matricular os seus filhos na própria rede por eles administrada. Um paradoxo de consequências cruéis para crianças pobres do Recife. Os dados reunidos em nossos relatórios enriquecidos por pareceres técnicos, imagens e vídeos, remetem a uma situação surreal. O Recife está entre as dez piores performances do Brasil. As crianças que conseguem permanecer na sua escola pública durante os oito anos dos cursos fundamentais, voltam para casa sem que saibam ler, sem noção mínima de português nem de matemática, e muito menos de idioma estrangeiro. Ou seja, por serem pobres e dependerem da escola pública elas iniciam a vida em ostensiva inferioridade quando comparadas com a formação dos jovens de famílias que podem pagar pelo ensino particular. Na competição do mundo em evolução tecnológica cada vez mais intensa, as crianças da rede pública recifense dificilmente terão oportunidade para ascender a uma qualidade de vida digna no futuro. Correm alto risco de exclusão social e de dependência dos programas assistenciais mantenedores de desigualdades. As avaliações dos níveis de aprendizado feitas pelo MEC nas provas do IDEB, pela prova Brasil e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) comprovam o desastre contra o qual temos lutado sem tréguas e que nos assusta diariamente quando a minha equipe agrega novos dados à plataforma que batizamos de Raio-X das Escolas. Os contrastes são inaceitáveis na medida em que, tendo como base os recursos orçamentários alocados pela prefeitura por determinação constitucional, cada aluno de uma escola pública do Recife custa cerca de 900 reais por mês ao contribuinte de impostos. É inaceitável portanto que um sistema dotado de excepcional suporte financeiro retenha as crianças por oito anos e as devolva à sociedade numa condição de extrema indigência escolar. O quadro já nos levou a fazer dezenas de pronunciamentos e denúncias na tribuna da Casa de José Mariano em cujo plenário continuamos a trabalhar incansavelmente em favor da causa que acreditamos. A realidade adversa da rede pública de ensino do Recife exige do gestor municipal uma ruptura corajosa com o atual sistema, e a sociedade deve cobrar essa medida. O site www.raioxdasescolas.com.br é uma contribuição inédita e inestimável para a abertura de um novo ciclo em favor de todas as crianças. Assim esperamos.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL