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DUA

José Carlos L. Poroca
Executivo do segmento shopping centers

Publicado em: 12/12/2019 03:00 Atualizado em: 12/12/2019 09:13

Walfrido (**) surpreende a cada dia, pelo menos a este artesão. Pelas suas peripécias, fica fácil deduzir que não circula sangue europeu nas suas veias. Não cumpre horário, é inconsequente e dotado de uma irreverência à beira da esculhambação. Confesso que admiro o seu jeito estúpido de ser. Uma coisa é certa: é bem informado, suas análises são coerentes na maioria das vezes, como a sua (dele) versão da história de Papai Noel. Não vou reproduzir aqui, não hoje, porque envolve tradição, encanto – coisas desse tipo.

Ontem, pela manhã (bem cedo, pra variar), a figura reapareceu, sem dar um bom dia, sem dizer um alô e sem perguntar se estava tudo bem. Não causa surpresa, pois quem o conhece, sabe que não há maldade. Aparentava estar contente, com um certo ar de vaidade. Chegou se vangloriando (?), dizendo que tinha uma sexta camada na córnea, chamada de dua. Nas suas palavras, a dua dobraria sua capacidade de visão; teria, a partir de então, uma visão de lince. Acrescentou que estava vendo “coisas” que antes não conseguia enxergar. Tudo balela: a camada de dua sempre existiu em todos nós.

A descoberta vai trazer benefícios, diferentes dos indicados por Walfrido. Saber da existência dessa camada não vai nos deixar com visão de super-heróis. Pelo contrário, mesmo com cirurgias de ponta e com lentes que ampliam ou corrigem a visão, estamos cada dia enxergando menos (no sentido figurado); não se olha o passado nem se vê o futuro, os ângulos ficaram mais estreitos e, com raras exceções, os olhos não conseguem enxergar 20 metros adiante. Os humanos estão “doentes da vista” e isso interfere no cérebro que, por sua vez, provoca desdobramentos no linguajar, no que resta do escrever e, claro, no raciocínio – a meio caminho do emburrecimento coletivo. Conclusão objetiva diante de uma realidade visível.

Não há exagero. Só por curiosidade, deem uma espiada em letras das “músicas” desse pessoal que faz sucesso e lota ginásios: quase uma tragédia: muita mediocridade com ou sem baticumbum, como boa parte do que vem acontecendo no planeta Brasil, que gira como corrupio, que consegue atrair toneladas de um piche de origem duvidosa para sujar o que já está sujo. Um fato dessa natureza comprova que, mesmo com toda tecnologia existente, ela não nos ajuda a descobrir quem fez a sujeira na água e na areia. Vamos apelar para Madre Frederica: só no olhar, vai inocentar o mordomo e vai dizer quem foi o criminoso. Com a palavra, a Madre!
 
(**) Pássaro que aparece periodicamente na minha janela. Fala em português e canta em vários idiomas. Pra quem duvida, tenho foto/vídeo, em cores, comprovando a existência do penífero.

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