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Editorial DNA do Brasil

Publicado em: 17/12/2019 03:00 Atualizado em: 17/12/2019 09:09

A ciência avança a passos tão largos que joga por terra certezas até havia pouco eram consideradas dogma. Ser diagnosticado com câncer, por exemplo, era sentença de morte. Hoje existem tratamentos que permitem ao portador de tumor maligno levar vida normal. O temido mal tornou-se enfermidade crônica como tantas outras com as quais se convive com serenidade. É o caso de asma ou hipertensão.

Investigações não param. Progressos num setor abrem infinitas portas, muitas das quais dão entrada a admirável mundo novo. A pesquisa genômica serve de exemplo. Ela vem ao encontro da afirmação antiga de que em medicina não existem doenças. Existem doentes. Cada caso é um caso. Para cada um, uma prescrição particular.

Mas os medicamentos desconhecem o fato. Um remédio é vendido nos cinco continentes, sem levar em conta as particularidades de cada paciente ou de cada população. Países como China e Estados Unidos já computaram dados de mais de 1 milhão de pessoas nascidas e moradoras no respectivo território.

O Brasil, por falta de aporte financeiro, entra com atraso no mapeamento do genoma nacional. Anunciado na terça-feira, o DNA do Brasil vai sequenciar genomas de 15 mil brasileiros e pôr os dados à disposição de cientistas que tiverem interesse de acessá-los.

O estudo dirá o que faz o brasileiro, diferente do finlandês, que é diferente do turco, que é diferente do mexicano, que é diferente do japonês. A miscigenação do país constitui desafio que precisa ser olhado de frente para enfrentamento de doenças complexas. Com o sequenciamento, chega-se ao requinte da medicina personalizada. Idealizado pela geneticista Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo (USP), o projeto é fruto de parcerias de universidades públicas com o setor privado. Entre elas, figuram o Google e a rede de laboratórios clínicos Dasa. O trabalho durará pelo menos 10 anos e seguirá três etapas — coleta, armazenamento e análise de informações.

No mapeamento dos genomas, os pesquisadores perseguirão dois alvos. Um: descobrir o que distingue a genética da população brasileira da de outros povos. Esse conhecimento pode ajudar a indústria farmacêutica a produzir remédios mais efetivos para o organismo dos nascidos neste país tropical e miscigenado.

O outro: construir uma árvore genealógica genética para compreender cada ponto do DNA nacional. Com ela, obtêm-se as informações necessárias para entender quem é o brasileiro e recontar a história do país por meio do estudo do genoma.

Ao lado da pesquisa científica, porém, se apresentam dilemas sociais e éticos que podem advir dos testes em larga escala. É o caso da redução das possibilidades de emprego para determinadas pessoas e a seleção por parte das companhias de seguro de quem será ou não segurado. Pior: a escolha de quem vai viver ou morrer. Impõe-se ampla discussão do assunto. Agora.

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