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Editorial Decisões adiadas

Publicado em: 19/12/2019 03:00 Atualizado em: 19/12/2019 10:12

Frustrante. Assim pode ser classificado o resultado da COP 25 (Conferência do Clima da ONU), que nem de longe alcançou seu objetivo de tornar mais amplas as metas de combate às mudanças climáticas no ano que vem, como as estipuladas pelo Acordo de Paris, firmado em 2015. Na época, 195 países, inclusive o Brasil, se comprometeram a impedir que a temperatura do planeta subisse mais de 1,5 grau Celsius até o fim deste século. Providência considerada de fundamental importância pela grande maioria da comunidade científica internacional. Isso para que a Terra não sofra consequências catastróficas relacionadas à elevação da temperatura global.

Os quase 200 países participantes do encontro, que se encerrou no fim de semana em Madri, na Espanha, não conseguiram chegar a acordos práticos previstos pelo ambicioso tratado firmado na capital francesa há quatro anos. A urgência da questão climática não pode mais ser protelada e o tema central da COP-25, a regulamentação dos mercados de carbono, prevista no Acordo de Paris, foi adiada para a COP-26, que será realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro de 2020. Brasil, Austrália e Estados Unidos (os americanos deixaram o pacto por decisão do presidente Donald Trump, mas só saem efetivamente no ano que vem) foram muito criticados por dificultar a regulação dos mercados de carbono imediatamente.

Causou estranheza entre os representantes das nações presentes à reunião o posicionamento contrário do governo brasileiro ao uso do termo “emergência climática” nos textos oficiais, concordando apenas com “urgência climática”, bem mais brando, o que revela como a crise do clima é vista pelo Itamaraty. Não causou tanta surpresa quando a delegação brasileira se opôs, abertamente, ao diálogo sobre o uso da terra, o que reviveria, novamente, a questão do desmatamento e as queimadas no país, sobretudo na Região Amazônica, que ganharam as manchetes mundiais não faz muito tempo. O problema é que o Brasil compareceu ao encontro com alta de 29,5% de destruição das florestas na bagagem, principal causa de gases do efeito estufa, e sem qualquer plano sobre como fará para diminuir esse índice.

O país também não apresentou nenhum propósito mais ambicioso para reduzir suas emissões de gases em 2020, contrariando o acertado pela cúpula do clima no sentido de se aumentar a ambição global para conter o efeito estufa e, consequentemente, a elevação dos termômetros. Nesse sentido, autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU), como o secretário-geral Antonio Guterres, faz coro à comunidade científica e diz que 2020 tem de ser o ano em que todas as nações se comprometam a fazer o que a ciência recomenda.

Inegável que os impactos da negligência dos líderes mundiais são sentidos em todos os continentes, principalmente com os incêndios florestais devastadores, secas prolongadas, processos de desertificação, nevascas e enchentes destruidoras cada vez mais frequentes. Há o concenso entre especialistas de que o bem-estar da população mundial depende da conservação do patrimônio natural do planeta, o que garantiria as condições para o crescimento socioeconômico. E o funcionamento normal dos ecossistemas é a maior proteção contra os eventos climáticos extremos. Por isso, decisões não podem ser mais adiadas.

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