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Crescimento econômico

Moacir Veloso
Advogado

Publicado em: 27/12/2019 03:00 Atualizado em: 27/12/2019 09:06

Observando-se o noticiário sobre a economia nacional pela mídia, tanto a crítica especializada, através de articulistas, quanto de alguns luminares da espécie, elegem o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) como dogma fundamental para a prosperidade de qualquer nação. Crescimento econômico significa, em síntese, o aumento bruto da soma de toda a produção de um país, durante um determinado período. Percebe-se que o núcleo do debate nacional sobre economia, com algumas exceções,  reside nas taxas de crescimento. Ao que tudo indica, o que está havendo é um grave equívoco ao confundir-se crescimento com desenvolvimento econômico. Enquanto o primeiro, é retratado pelo PIB, o segundo se refere aos aspectos diretamente relacionados com a qualidade de vida da população, originária dos níveis de educação e saúde, indicadores decorrentes de uma saudável política de distribuição de renda. Daí a definição de economia: “É a ciência que estuda a produção, distribuição e a circulação das riquezas de um país”. A falácia do crescimento é a seguinte: digamos que uma família economicamente ativa, composta de dez pessoas, tenha, tomando-se como paradigma, uma renda anual de R$ 120.000,00, assim dividida: O membro X, é dono de uma empresa e fatura R$ 100.000,00 ao ano, enquanto os demais, somados, percebem os R$ 20.000,00 restantes. Decorrido um ano, o empresário prospera, aumentando seu faturamento para R$ 180.000,00, permanecendo os restantes com os mesmos R$ 20.000,00. Sob a ótica dogmática do crescimento, a renda da família ascendeu em 100%, quando o que ocorreu foi o inverso: um único membro duplicou seus rendimentos, enquanto os restantes tiveram sua situação piorada porque seus salários sofreram os efeitos deletérios da inflação. Assim, embora o “PIB” da família tenha aumentado 100% não se pode de forma alguma afirmar que esse clã prosperou, porque apenas um membro teve seu poder aquisitivo aumentado. Contudo, sob a ótica dogmática do crescimento poderiam comemorar na virada do ano, um aumento de 100% na taxa de crescimento do PIB familiar. A festa, entretanto, seria, obviamente, às expensas do afortunado. Com todo respeito e admiração que sinto por eminentes cientistas econômicos existentes no país adeptos do crescimento como panacéia, não consigo entender essa entronização do PIB enquanto PIB. Temo assistir razão ao articulista Roberto Pompeu de Toledo quando arremata: “Os estudantes brasileiros seguirão aferrados aos últimos lugares do Pisa. A tragédia da educação no Brasil continuará sendo, ‘o equivalente moral da escravidão no século XXI’1. Quanto à saúde, é outra tragédia que todos nós já conhecemos”.

1- Citação extraída de artigo publicado na revista Veja, edição nº 2.405 - ano 47 - de 24/12/2014 – Pg.110.

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