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Amin Stepple, admirável figura

José Adalberto Ribeiro
Jornalista

Publicado em: 28/12/2019 03:00 Atualizado em: 28/12/2019 15:40

Conheço três definições filosóficas sobre amizade: por interesse, por afinidade e por admiração. As três podem ser verdadeiras. Amizades por afinidade e admiração são as mais virtuosas. Amizades por interesses são exercidas tipo parcerias em trabalho por conveniências sociais.  Minha amizade com Amin Stepple Hilluey foi cultivada por afinidades intelectuais e admiração, de minha parte, e da parte dele creio que por afinidades eletivas em humanidades.

Ao saber do transe em vida de Amin para o plano espiritual, no domingo à noite, fiquei meio atordoado e escrevi um artigo ditado pelo impacto do momento, publicado com a generosidade de sempre pelo Mogno Magno Martins em seu magnífico Blog. Mas, senti-me devedor a mim mesmo de um testemunho mais elaborado. Mantenho o que escrevi e acrescento alguns tópicos.  

Somos companheiros de geração e de viagens nas nuvens do jornalismo, das letras e das esquinas da vida. Adolescente em Campina Grande, lembro da figura magra dele nas escadarias do lendário Colégio Estadual da Prata nos idos de 1970. As escadarias guardam a memória dos nossos sonhos juvenis.

Era um rebelde por formação e tinha consciência disso. Parecia dizer: hay poder, eu sou um libertário.  Mas, os rebeldes não são de ferro. Amin construiu uma família conservadora, junto com a esposa Ana Rute e o filho Diogo. Pense num cara amoroso em família! Foi seu amparo na vida.

Stepple e Hilluey, de pai e mão, são traços da fleuma dos ingleses e da ousadia dos ancestrais libaneses. Eu menino conheci o Seu Hilluey, vestido de suspensório, numa rua do comércio na Serra da Borborema.   

Imagine  – no country, aprendemos com o bem-aventurado John Lennon, ídolo da nossa geração, que a aldeia global é cosmopolita, sem provincianismos e sem ufanismos, vai além da terra dos altos coqueiros e da pequenina e heroica Paraíba masculina, nestas terras tropicalistas.

Somos bichos-grilos sem fronteiras, da terra dos Beatles, de Elvis Presley, de Bob Dylan, do delirante Glauber Rocha, Charles Chaplin,  Nelson Rodrigues, Machado de Assis, a divinal Janis Joplin, Michael Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, na moral.    

Intelectual refinado e talentoso, o defeito dele era a pouca ousadia em se projetar no mundo cultural e onde se pratica o canibalismo de mercado e práticas similares. Exercia seus ofícios criativos sem fazer concessões para as mesmices e conveniências das panelinhas. Ainda assim pontificou e deixou a marca indelével do seu talento nas áreas onde atuou.  

Escreveu um livro de contos e o médico Alvacir Raposo, o famoso Doutor Fox, admirador dele e amigo rochedo, é autor do prefácio.

Nossa geração semivirgem na década de 1970 frequentou as esquinas do pecado, da cultura underground chamada de alternativa, da boemia, do álcool, marijuana e os alcaloides. Amin saiu limpo,  não se deixou atrair por esses abismos da condição humana.  

Das escadarias do lendário Colégio Estadual da Prata nos anos 1970, até as mesas de redação do Diario de Pernambuco nos anos seguintes e nossa vivência recente na Freguesia da Jaqueira e de Nossa Senhora dos Aflitos, cultivamos nossa amizade-raiz com base em afinidades comuns e minha admiração por seu admirável perfil humano e intelectual.   

Se eu fosse espírita, diria que a aura de Amin habita na psicosfera do bem e os Deuses são cruéis com a humanidade terrestre.

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