Diario de Pernambuco
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A metafísica da bajulação

Adhailton Lacet Porto
Juiz de Direito

Publicado em: 19/12/2019 03:00 Atualizado em: 19/12/2019 10:09

Ao que se percebe a onipresença não é apenas um privilégio de Deus. Aquele sujeito dócil, prenhe de obsequiosidade, contumaz apertador de mãos e tapinhas nas costas e habilidoso na arte da fofoca, também está em todo lugar e a qualquer hora. É o puxa-saco.

Essa figura pegajosa e mesquinha também atende pelo nome de babão, lambeteiro, cafofa, chaleira, xeleléu, adulão, baba-ovo  e corta-jaca, entre outros adjetivos. Está sempre perto daqueles que têm alguma coisa a oferecer, seja comodidade, dinheiro ou poder, Não mede esforços para conseguir seus objetivos, mesmo em detrimento do direito ou interesses legítimos de outrem. Para tanto é matreiro e persistente, e na sua artimanha utiliza até pessoas próximas como esposa e filhos.

Existe o bajulador inocente, aquele que não é matreiro, que contenta-se apenas por estar próximo de alguém influente ou de destaque, para participar de rega-bofes e ver sua foto estampada na coluna social. Por outro lado, o sabujo corrosivo não tem amigos verdadeiros, não perde uma oportunidade de criar e disseminar uma fofoca, buscando tão somente tirar proveito. E para tanto telefona, indaga e se preocupa com a saúde da pessoa bajulada, agenda festinha e presta homenagens e, sobretudo, presenteia, gastando parte do seu parco salário com coisas como gravata, caneta, queijo e até lata de doce caseiro.

Aquele que não pactua com o método do babão, fica pouco à vontade em sua presença. É comedido nas palavras temendo ser injuriado. É comum o xeleléu ser motivo de chalaça. Mas para ele pouco importa, o que vale é conseguir o que almeja. Para tanto conta com o apoio inconsciente e involuntário da pessoa agraciada com seu afago fajuto.

A bajulação é peculiaridade do ser humano e busca superar, no mais das vezes, a competitividade e a  incompetência. Para se conseguir um simples convite de um evento festivo até um emprego e uma promoção na carreira profissional, utiliza-se a babada. É um método aparentemente fácil, mas que exige tremenda cara de pau e cinismo.

Preocupante, contudo, é a forma inebriante com que a bajulação atinge os detentores do poder, massageando seus egos e deixando-os inertes à vontade do puxa-saco, que por fim, objetivo almejado, sai vitorioso ostentando um sorriso num rosto sem-vergonha.

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